Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.
Como mães e pais podem ajudar na construção da boa autoestima dos filhos?
Muito temos falado sobre a saúde mental das crianças e adolescentes, que vem sendo afetada principalmente pela pandemia e também pelo excesso do uso de telas. No meio disso tudo tem uma palavrinha que merece destaque: a autoestima.
Em uma pesquisa divulgada esta semana pelo IBGE (a PeNSE, Pesquisa Nacional de Saúde dos Escolares) sobre a saúde dos estudantes brasileiros na última década, destaco, entre vários pontos abordados, o aumento da insatisfação com a imagem corporal - tanto em magreza quanto em excesso de peso.
Entre os alunos do 9o ano do ensino fundamental, em 2009, 17,5% reclamavam de ser gordo e isso saltou para 23,2% em 2019. Os que se consideravam muito magros eram 21,9% e passaram para 28,6%. Isso atinge tanto meninos quanto meninas, em escolas públicas e particulares.
Os filtros nas fotos publicadas em redes sociais e o tal padrão de beleza estabelecido colaboram para piorar esta situação. Entre as meninas, parece que todas precisam ser magras, com bocas carnudas, sobrancelha desenhada, nariz arrebitado. Os meninos idealizam barriga tanquinho e outros atributos. Ou seja: tudo dentro de uma fantasia e de um ideal muitas vezes impossível.
Em artigo publicado no site Papo de Mãe, Adriana Drulla, psicóloga especializada em parentalidade consciente, chamou a atenção para o uso excessivo de filtros e os impactos disso na autoestima dos jovens. A busca pela aparência perfeita nas redes está influenciando a autoestima dos internautas jovens e assim fica cada vez mais difícil gostar de quem somos e de como somos de verdade.
"As redes sociais popularizaram a ideia da aparência perfeita. Existem pessoas que passam horas trabalhando em seus perfis sociais, investem tempo e dinheiro para aprender o melhor ângulo e luz para selfies, além do uso excessivo de filtros e programas de tratamento de fotos. Isso não só é exaustivo como produz ansiedade e insegurança. Ainda mais quando a imagem que o jovem apresenta de si não representa quem ele sente que é de verdade" escreveu Adriana em seu texto, e completou: "Um estudo feito nos Estados Unidos descobriu que o uso das mídias sociais com o intuito de comparar-se com o outro ou ter a validação do outro, está associado com sintomas de depressão."
E como nós, pais e mães, podemos ajudar desde cedo nossos filhos a desenvolverem uma bela autoestima? Sempre adotei uma dica que recebi de uma pedagoga nos primeiros dias da minha mais velha na escola: muito cuidado com as palavras, com a forma de dizer e com suas atitudes. Em vez de dizer para a criança pequena "você é chata", diga: "o que você fez não foi legal". Ou não diga "você é mau", mas "isso que você disse é uma maldade".
Há outros exemplos, como chegar numa festa e apresentar o filho assim: "Este é meu filho. Ele é muito tímido e mal educado, nunca cumprimenta ninguém". A pedagoga me explicou que se a mãe ou o pai ou quem cuida da criança assume essas características para ela, ela acaba internalizando isso e assumindo talvez para sempre sua "condição" de tímido ou mal educado.
Infelizmente, há pais e mães que acabam dizendo coisas para os filhos como "você come muito e está ficando gorda e feia" ou "você não presta pra nada" ou "não vai ser nada na vida". Ao contrário do que muitos podem imaginar, de que isso seja "educar", na verdade, essas afirmações vindo de quem cuida da gente e, em tese, nos ama, caem como uma bomba na autoestima das crianças e adolescentes.
Outro dia eu soube de uma mãe que, ao postar fotos da filha no Instagram, costumava "corrigir" o nariz da filha com um aplicativo para ele ficar mais fino e arrebitado na foto. Resultado: aos 18 anos, tudo o que a menina mais queria fazer era uma plástica no nariz - e fez. O Brasil é país recordista em cirurgias plásticas, inclusive entre os mais jovens.
Valorizar a autoestima não é só falar da aparência, mas também da essência daquele ser humano. Também não precisa exagerar pelo outro lado e sair da realidade deixando o filho ou filha se achar o melhor do mundo ou melhor do que os outros.
O desafio está justamente em valorizar o que existe de bom ou de diferente, fortalecer aquela pessoa ainda em formação para que ela seja um adulto mais seguro e com maiores possibilidades de se impor com respeito, de se colocar na sociedade, de ter uma vida mais equilibrada.
Aceitar nossos filhos como eles são também é uma atitude importante. Ter uma autoestima forte vai ajudar inclusive a enfrentar eventuais situações de bullying. Lembrando que os pais de quem pratica bullying também têm a obrigação de educar seus filhos pra que não hajam desta maneira. Mas este já é um outro assunto, que fica para um próximo artigo.
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