Topo

Mariana Kotscho

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Prevenção, supervisão e socorro imediato: como evitar acidentes infantis

Prevenção, supervisão e socorro imediato salvam vidas infantis - pinstock/Getty Images/iStockphoto
Prevenção, supervisão e socorro imediato salvam vidas infantis Imagem: pinstock/Getty Images/iStockphoto

Colunista de Universa

24/07/2022 04h00

Toda semana vemos pelo menos uma notícia trágica na imprensa envolvendo morte de crianças por acidentes: queda da janela, engasgamento, disparo acidental de arma de fogo. Há algumas semanas, foi divulgada a morte de um menino que havia engolido um prego. Nos últimos dias, repercutiu o caso do afogamento de um outro menino, de 3 anos, num hotel de luxo no Pará. Os números são mesmo assustadores e nem todos os casos acabam sendo divulgados ou ganhando as manchetes.

De acordo com dados mais recentes do DATASUS (do Ministério da Saúde) em 2021, as principais causas de internações de crianças de 0 a 14 anos foram: em primeiro lugar quedas, seguidas por queimaduras e acidentes de trânsito. Entre 0 e 4 anos a maior causa de mortes são os afogamentos. Muitas vezes, os que sobrevivem carregam sequelas para sempre.

Estudos feitos pela SafeKidsWorldwide mostram que 90% dos acidentes podem ser evitados quando as crianças estão com a supervisão de um adulto responsável e vigilante. Não adianta o adulto estar com um olho na criança e outro no celular.

Se, mesmo com prevenção, ainda assim o acidente acontecer, o socorro precisa ser imediato. Vamos pegar como exemplo um afogamento, algo que pode acontecer em diversos locais, como piscinas, lagos, rios, praia ou até dentro de casa - numa bacia, no banho, na privada. Dois centímetros de água num balde são suficientes para uma criança pequena se afogar.

A especialista desta área de prevenção de acidentes com crianças e adolescentes Erika Tonelli, cientista social, explica que um ambiente seguro e supervisão realmente salvam vidas. Não basta, por exemplo, colocar a boia na criança e largá-la sozinha na água - precisa ficar de olho.

ARMAS DE FOGO E CRIANÇAS

Erika Tonelli chama a atenção para o aumento de acidentes com armas de fogo entre crianças e adolescentes. Basta ter uma arma em casa para este risco aumentar. "Até a volta das armas de brinquedo em lojas tem sido naturalizado, embora exista uma lei que proíba isso", alerta Erika.

Ao analisar dados de acidentes com crianças de 0 a 14 anos, levando em conta a base de dados do DATASUS, a cientista social constatou que houve um aumento de 25% de óbitos causados por armas de fogo entre 2019 e 2020.

"Os acidentes de trânsito ainda configuram como a forma mais letal de acidentes com crianças menores de 14 anos, mas o aumento nos acidentes envolvendo armas de fogo tem um crescimento exponencial de um ano para outro. Na faixa etária de 10 a 14 anos, se abrirmos esse dado, tivemos um aumento no número de óbitos nos acidentes com armas de fogo de 67%. Claro que ao ver o número geral em si, isso representa um aumento de 5 crianças, o que não significa um número tão expressivo frente a população infantil brasileira", aponta Erika Tonelli, que ressalta, mesmo assim, a gravidade de uma tendência de subida.

O fato é que criança não tem noção do perigo. Sabe aquela história de que o pai acha que a mãe está olhando e a mãe acha que o pai está olhando e no fundo ninguém está olhando? Este é um dos maiores perigos. Na dúvida, combine sempre quem é que vai estar responsável pela supervisão dos pequenos.

É só começar a falar deste tema que todo mundo tem uma história trágica para contar. Falar sobre isso e informar sobre os riscos que existem também é uma forma de prevenção.

Já ouvi histórias de crianças que caíram da laje ao empinar pipas, bebê que levou coice de cavalo. Minha filha já quebrou o pé porque um móvel pesado caiu por cima dela.

Se mesmo com prevenção e supervisão o acidentes acontecer, a sobrevivência pode depender de um socorro imediato. Para chamar os bombeiros, o número é 193, Samu é 192. Vale também fazer curso de primeiros socorros, disponíveis hoje em dia até mesmo online, e é importante saber fazer a manobra de desengasgo (manobra de Heimlich).

O filho de Alessandra Begalli, Lucas, morreu ao ficar engasgado com uma salsicha durante um passeio da escola. O socorro demorou a chegar e ninguém sabia fazer a manobra de desengasgo. Foi em 2017 e ele tinha 10 anos.

Ela então lutou para que fosse criada a Lei Lucas, que vem salvando muitas outras vidas. A lei federal, de 2018, tornou obrigatório que instituições de ensino básico e de recreação infantil, públicas ou particulares, proporcionem o treinamento de primeiros socorros para parte dos funcionários. Sabendo disso, temos que cobrar que a Lei Lucas seja cumprida. Em relato que recebi de Alessandra em 2021, ela me disse: "Vivo para ressignificar a morte de meu filho".

Com criança é assim: "coisa de segundos". Se temos uma por perto, vamos ficar de olho.