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Mariana Kotscho

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

O que eleger um tiktoker diz sobre nossos jovens?

Nikolas Ferreira foi o deputado federal mais votado do Brasil nas Eleições de 2022                              - Reprodução/Internet
Nikolas Ferreira foi o deputado federal mais votado do Brasil nas Eleições de 2022 Imagem: Reprodução/Internet

Colunista de Universa

16/10/2022 04h00

Eu sou de uma geração de mães (e pais) que passaram a ter preocupações que meus pais nunca tiveram: a internet e o que nossos filhos e filhas veem e fazem nas redes sociais. O celular hoje é praticamente uma extensão do corpo dos adolescentes e até de crianças, o que é um risco. Sabemos dos perigos deste mundo virtual, da possibilidade de assédio, de pedofilia, golpes, cyberbullying e outros crimes. Mesmo assim, essa tecnologia veio pra ficar e é impossível manter a garotada longe. Até uma certa idade, a gente consegue controlar o conteúdo ou o tempo de tela, mas chega uma hora em que há quem "entregue nas mãos de Deus", como diria minha vovó Lúcia. Mas não deveriam.

Sabe aquela afirmação que a gente costumava fazer do tipo "só saberemos no futuro quais as sequelas desta geração criada com redes sociais"? Pois o futuro chegou, e ele assusta. Nikolas Ferreira (PL - MG) foi eleito deputado federal mais votado do país é um autêntico "influencer". Eu mesma nunca tinha ouvido falar dele, porque com 3 filhos e muito trabalho, mal consigo dar conta da minha vida real, que dizer da virtual.

Mas o seu projeto de político estava ali, ganhando adeptos, seguidores e likes. Graças a vídeos numa rede social, se elegeu sem nunca ter tido um grande projeto político, sem nunca ter feito algo de bom pela sociedade. Além de ser um grande produtor de fake news, como já sabemos. Esses dias mesmo, foi obrigado a tirar algumas do ar e nesta semana que passou, diversas reportagens apontaram para supostas irregularidades em doações para a campanha eleitoral dele.

Se há pais que ingênua, ou maldosamente, ainda reclamam de "escola doutrinadora", deveriam estar mais preocupados é com a internet doutrinadora, alienadora, manipuladora. Se não perdessem tanto tempo atacando a educação, talvez tivessem mais tempo de controlar as bobagens que a garotada perde horas assistindo nos seus aparelhinhos eletrônicos.

O fato é que temos que estar atentos para que nossas crianças e adolescentes não sejam abduzidos pela ignorância que se alastrou pela internet. Eles estão assistindo conteúdo adequado para a idade?

Nossa geração de pais e mães desses que nasceram com um celular na mão tem a obrigação de fazer esse extra na hora de educar. É muita responsabilidade. Não só pela desinformação política ou pela falta de profundidade, mas, como citei acima, pelos riscos reais. Já sabemos de diversos malefícios.

De acordo com recomendações da Sociedade Brasileira de Pediatria, antes dos 2 anos, nada de telas. De 2 a 5 anos, o limite seria de uma hora por dia e com supervisão de um adulto. Dos 6 aos 10, até duas horas por dia e, aos 18, três horas diárias. Quem consegue cumprir isso? Além do excesso de tempo de tela, quando a criança deixa de brincar, de interagir, de se desenvolver, tem a questão do conteúdo. O que estão assistindo? O que estão aprendendo? Com quem estão falando? Lembrando que telas incluem celulares, tablets, joguinhos, TV.

Já recebi inúmeros relatos de casos de crianças que conversavam com estranhos que pediam fotos, de adolescentes que desapareceram após ir a encontro presencial com amigo virtual, sem contar as notícias de quem morreu após fazer desafios propagados nas redes.

Segundo a pesquisa TIC Kids Online Brasil, realizada pelo comitê gestor da internet no Brasil, 93% dos brasileiros entre 9 e 17 anos são usuários de internet. E, sendo bem utilizada, ela pode ter um aspecto positivo. Mas isso depende de controle e supervisão.

Aproveito para divulgar que está para ser lançado o livro "Crianças e Adolescentes no Mundo Digital", da advogada especialista em direito digital e segurança de crianças e adolescentes na internet Alessandra Borelli. Os adultos precisam se informar e estudar para aprender a lidar com responsabilidade em relação a tudo isso, pelo bem das crianças e do futuro da sociedade. Isso se chama cuidar. O livro traz orientações para o uso seguro e consciente das novas tecnologias.

As crianças e os adolescentes também devem aprender sobre como se colocam na internet, inclusive para eles mesmos não cometerem crimes. Hoje já existem leis que determinam muitas regras de convivência na internet.

Tem ainda um outro aspecto, que é a saúde emocional impactada pelas redes sociais. Isso pode atingir a autoestima dos jovens, desencadeando quadros de ansiedade e depressão.

Como dizem os especialistas em segurança digital: você não deixaria seu filho à noite numa rua com pessoas que ele não conhece. Por que vai largar na internet?