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Disse que está grávida? Se prepare para chuva de palpites e questionamentos

Somos donas de nossas vidas, mas caso você engravide, prepare-se para ser vista como domínio público. A frase pode soar exagerada, mas você vai ver que a cada ultrassom ou sintoma surge um novo especialista em maternidade pronto para oferecer opiniões repletas de segredos, dicas e as melhores formas de cuidar do bebê. Sua vida privada é exposta à opinião pública pelo simples fato de gestar.

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Palpites sobre alimentação, exercícios, método de parto, criação do bebê, invadem o espaço pessoal da grávida, muitas vezes partindo até de desconhecidos, sem considerar experiências pessoais, crenças, medos e conhecimentos prévios. Sem levar em conta ainda que a gestação -e aqui não vou nem aprofundar no papo dos hormônios- é um período vulnerável, de introspecção e conexão, e esse momento profundo de reflexão sofre quando a grávida se torna uma vitrine para a sociedade e é vista como um projeto coletivo, com suas escolhas sendo analisadas e questionadas.

Vamos trabalhar com a famosa empatia. Se imagine em um momento sensível, seu corpo mudando, você refletindo sobre questões que vão transformar a sua vida e garantir a segurança e saúde do seu filho, e ao invés de ser amparada, você é questionada sobre escolhas das quais você já estudou, repensou e optou. É uma das maiores angústias que da gravidez.

Seja a decisão de amamentar ou não, de fazer parto normal ou cesárea, de adotar práticas de criação mais naturais ou mais convencionais, nos sentimos pressionadas a justificar cada uma das decisões. A invalidação constante gera insegurança, culpa e até mesmo sensação de solidão, como se o mundo todo não fosse capaz de nos respeitar e entender.

Os palpites, por mais bem intencionados que sejam, minam a confiança. O medo de sermos julgadas pode levar ao isolamento social, mesmo sendo uma fase em que nossa necessidade é de colo, acolhimento.

E aí entra a ação de cada um de nós no meio do tormento. Nosso papel, como sociedade, é entender que a gravidez é um processo individual. Cada mulher, com sua vivência e expectativas, tem o direito de tomar suas decisões, inclusive de querer ou não as justificar. O respeito garante a autonomia e a confiança para gestante reafirmar que é capaz de cuidar de si e do seu bebê. É essa a atitude e o apoio que a grávida precisa.

As informações devem vir de profissionais de saúde, que têm papel fundamental no processo ao explicar as opções de forma clara e objetiva, tirando dúvidas e auxiliando as gestantes a tomar decisões conscientes. Lembre que você não precisa atender às expectativas alheias para ser uma boa mãe. Busque informações confiáveis, consulte fontes seguras e decida, podendo ser livre, inclusive, para mudar de ideia no meio do caminho se achar preciso.

Está grávida? Pense que você e seu bebê são os protagonistas dessa história e você é a única que realmente conhece seu corpo, seus valores e suas necessidades. Lidar com os palpites é chato, mas é possível manter a calma e a serenidade ao estabelecer limites, comunicar necessidades e buscar apoio, se preparando e blindando para aproveitar essa fase tão especial.

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O autocuidado também é essencial. Você precisa estar bem para poder cuidar bem do seu bebê. Esteja em dia com seus exames e consultas do pré-natal, siga as recomendações médicas, tire um tempinho para cuidar de você, se cerque de pessoas queridas, que te apoiam e te respeitam. Nem sempre vocês irão concordar, mas o importante é ter uma rede de apoio que respeite suas escolhas.

Por fim, estabeleça limites. Muitas vezes um recado tranquilo é suficiente. Se quiser, tenho uma frase que basta repetir quando alguém invadir o espaço: "Valorizo sua opinião e sei o quanto você já ama meu bebê, mas também preciso tomar minhas próprias decisões e adoraria que fossem respeitadas." Mas essa resposta é quando forem educados, tá? Se os palpites se tornam tóxicos, prefiro ser direta e dizer algo como: "Pelo bem da nossa convivência respeite minhas escolhas."

Mas estou achando que é hora de encerrar essa conversa, não é mesmo? Notei que sem querer sugeri respostas e dei palpites de como lidar com a sua gravidez. Você entendeu e me perdoa, certo? Vamos juntas, com o jeitinho de cada uma, nos fortalecer e ajudar durante esse caminhar do gestar.

*Monica Romeiro é a criadora do Almanaque dos Pais. Ela é comunicóloga, palestrante, empresária, conselheira parental e escritora de "Vem cá me dar um abraço - um colo de mãe para mãe" e "Amor maior que o meu - o que você mais, ser mãe ou seu filho?".

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Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.

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