Posso não ter prazer em ser mãe? A dor em assumir o cansaço da maternidade
Ao pensar na palavra 'maternidade' é comum associar com momentos de amor, conexão, alegria ao lado dos filhos, quase como um comercial de margarina. Esse ideal de maternidade leve, fluida e natural está nos sonhos de várias mulheres, afinal, é assim que grande parte das mães fala sobre. Mas acho que em pleno 2024 já podemos dizer também que tem muita mãe que deixa claro que a realidade nem sempre corresponde a imagem idealizada.
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Amamos profundamente nossos filhos, é claro, mas isso não significa que vamos adorar cada aspecto da rotina de ser mãe. A verdade é que, apesar do amor incondicional, a maternidade também envolve cansaço, tarefas repetitivas e cobranças sociais que podem ser exaustivas e até cruéis.
A parte prática da função parece interminável: trocar fraldas, acordar de madrugada, lidar com choros e birras, educar, corrigir, estimular, cozinhar refeições balanceadas, limpar, e repetir tudo isso no dia seguinte. São atividades essenciais, mas que são sim cansativas e, sejamos francas, pouco prazerosas.
Isso cria um conflito interno: como é possível amar tanto um filho e, ao mesmo tempo, não gostar de certas partes da rotina materna? Se você espera uma resposta complexa, sinto muito te decepcionar, porque a verdade está em compreender que o amor materno não precisa ser medido pela satisfação em realizar todas as tarefas que vem com a criança. Não gostar da rotina não diminui o amor que sentimos por nossos filhos.
Mas admitir que não há prazer em partes do maternar pode ser dolorido, mal interpretado, difícil de dizer em voz alta em uma sociedade que espera o contrário. Se admitimos que não gostamos de limpar cocô, olha só que surpresa, há quem entenda que isso nos torna 'menos mãe', criando um peso enorme sobre nossos ombros, resultando no famoso sentimento de culpa.
Nos sentimos culpadas por não conseguirmos ser aquela mãe perfeita que vemos nas redes sociais, que sorri enquanto troca a décima fralda do dia com o mesmo coque de cabelo de 3 dias atrás ou que parece não se importar em acordar várias vezes durante a noite. Nos culpamos por desejar um momento de paz, de solidão. Essa culpa é injusta e baseada em um padrão inalcançável.
Vou escrever aqui para você ler em voz alta e aceitar sem dor: está tudo bem não gostar da sobrecarga emocional e física, tudo certo em sentir receio pela sua carreira, saudades da liberdade ou do tempo para si mesma. Repete comigo: sentir-se assim não te desqualifica como mãe, apenas revela uma dimensão humana que precisa ser muito mais discutida e acolhida. Reconhecer esses sentimentos nos ajuda a buscar um equilíbrio mais saudável entre o cuidado dos filhos e o autocuidado.
Então, como podemos resgatar a leveza que sonhamos? A chave está em aceitar que a leveza não é sinônimo de perfeição ou de ausência de desafios. Uma maternidade leve é aquela em que nos permitimos ser humanas. Onde aprendemos a nos perdoar e não sermos tão duras conosco. Onde aceitamos que nem todos os dias serão fáceis e que, mesmo assim, estamos fazendo o nosso melhor.
Busque apoio. Mães não precisam (e nem deveriam) enfrentar a maternidade sozinhas. Dividir as responsabilidades com parceiros, familiares ou uma rede de apoio pode aliviar. Pedir ajuda não é sinal de fraqueza, mas de sabedoria. Quanto mais equilibrada a mãe estiver, mais ela poderá estar presente de forma saudável para seus filhos.
E reserve momentos para si mesma. O autocuidado não é um luxo; é uma necessidade. Seja uma pausa para um café, uma caminhada sozinha ou simplesmente alguns minutos de silêncio, esses pequenos momentos são essenciais para recarregar as energias e manter a sanidade.
Boa sorte na jornada!
*Monica Romeiro é a criadora do Almanaque dos Pais. Ela é comunicóloga, palestrante, empresária, conselheira parental e escritora de "Vem cá me dar um abraço - um colo de mãe para mãe" e "Amor maior que o meu - o que você mais, ser mãe ou seu filho?".
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