Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.
Como Will e Jada Smith: o que considerar antes de topar uma relação aberta
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Desde que Jada e Will Smith "saíram do armário" e declararam publicamente que vivem um casamento aberto, o assunto pipocou em todos os grandes portais de notícias (aqui em Universa, inclusive) suscitando questões sobre o tema. Se relações abertas e não monogâmicas são conceitos novos e confusos para você, calma que eu vim te ajudar!
Há algum tempo venho compartilhando minha experiência de viver uma relação não mono no meu perfil Instagram e, mais recentemente, no podcast Vida Não Mono. Por isso, sei quais são as perguntas mais comuns sobre o tema. Tenho certeza de que, pelo menos uma delas, já passou pela sua cabeça. Veja as 10 questões que mais recebo e suas respostas, a seguir.
Mas antes é bom ter em mente que o termo "relacionamento não monogâmico" é um grande guarda-chuva de tipos de relações que têm em comum o fato de não se adequarem ao típico casamento monogâmico, que gira em torno da exclusividade afetiva e sexual dos envolvidos. Por isso mesmo, são relações múltiplas, adaptáveis.
Então aqui, falo a partir da minha própria experiência, ou seja, nem todo mundo que se entende como não mono vai, necessariamente, concordar com todas elas. Mas vamos lá:
1. Como alguém descobre se é não monogâmica?
Do mesmo jeito que a gente deveria "descobrir" se é monogâmica: entendendo quais são as regras e dinâmicas de cada tipo de relação e fazendo uma escolha.
Então, mais do que descoberta, a não monogamia é uma opção, pensada e refletida a partir dos seus valores, de como você quer se relacionar com o mundo e com as pessoas ao seu redor.
Para mim, entender que a monogamia é um contrato de exclusividade afetiva e sexual, simplesmente nunca fez muito sentido, já que sinto que sou capaz de amar e me sentir atraída por mais de uma pessoa ao mesmo tempo sem achar que isso é o fim do mundo. Foi a partir dessa percepção que a minha escolha por relações não mono aconteceu.
2. Não é mais fácil ser solteira e pegar geral do que inventar de se relacionar desse jeito?
Essa pergunta é comum e acho até engraçada. Mais fácil pode até ser, mas será que estamos falando da mesma coisa?
Escolher se relacionar com alguém é algo, de fato, bem complexo. Acomodar nossas imperfeições e subjetividades num acordo afetivo demanda atenção, cuidado, companheirismo, acolhimento, lealdade, dedicação e, para muita gente, nada disso tem a ver com a ideia de exclusividade.
Ou seja, em relações não monogâmicas, tudo isso acontece também. A grande diferença é um entendimento de que exclusividade, sentimento de posse e controle sobre o outro, não precisam estar presentes nessa dinâmica.
O fato de ficar/beijar/se envolver/se apaixonar por outras pessoas é uma consequência desse acordo inicial de respeito pelos desejos e autonomia do outro. Como eu disse, fácil não é, e por isso mesmo não dá pra comparar uma relação assim com não estar em alguma relação.
3. Como é viver uma relação sem regras?
Ao contrário do que se imagina, viver uma relação não-monogâmica não significa viver no 'oba-oba" O que quero dizer: de uma forma geral, as regras continuam existindo, mas são regras estabelecidas, criadas e acordadas entre as partes envolvidas, não impostas por ninguém de fora.
Regras, como por exemplo, usar preservativo sempre ou "não sair do armário monogâmico" (como fizeram Will e Jada) no convívio mais próximo para evitar julgamentos e pressão. Tudo de comum acordo, dentro de uma ética que tem, por princípio, respeitar a individualidade e a autonomia de cada um.
Além disso, é comum que relações não mono adotem regras um pouco mais rígidas no início, que vão sendo afrouxadas a medida em que a relação (ou relações) amadurece. Vai de cada caso.
4. Então, não tem ciúme?
Tem sim. No meu caso então, sou super ciumenta!
Há quem tenha conseguido superar esse sentimento, que é fruto de uma necessidade de posse e controle sobre o outro. Mas há quem, como eu, continuará sentindo ciúme e aprenderá a lidar com isso. Afinal, não acho errado sentir, acho errado usar esse sentimento para cercear a liberdade de alguém.
Então, eu sinto ciúme. Muitas vezes, sinto profundamente. Mas eu sei que passa e que vale a pena deixar passar.
5. Existe traição numa relação aberta/não monogâmica?
Existe sim! Cada relação tem seus acordos mútuos, alguns explícitos, outros menos evidentes, que precisam ser respeitados. Não há relacionamento que sobreviva se o que move uma das partes é a simples satisfação de todos os seus desejos. Se respeitar é importante, assim como é manter um olhar acolhedor sobre o outro.
É sempre bom lembrar que estamos falando de pessoas e viver uma relação não mono não garante ética dos envolvidos.
6. Não é mais natural aceitar a monogamia do que inventar moda?
Natural não é não. Historicamente, o ser humano passou muito mais tempo vivendo em tribos do que na estrutura social/familiar atual.
A família como conhecemos hoje começou a surgir há 12 mil anos, quando aconteceu a primeira revolução agrícola, quando foi criado o conceito de propriedade privada. A monogamia surgiu como um contrato, para garantir direitos e deveres sobre a terra.
A ideia de casamento monogâmico atrelada ao amor romântico é ainda mais recente, se tornou uma regra mesmo ali pelo século 17. Então, não dá pra dizer que o que vivemos hoje é "natural".
No fim das contas, o que vale - ou deveria valer - é o que faz sentido para cada um, a ideia de que somos geneticamente programados para um ou outro tipo de relação acaba não fazendo tanto sentido.
7. Quem opta por uma relação assim vive na pegação?
Depende! E eu responderia a mesma coisa sobre casais monogâmicos (afinal, traição, para muitos, pode ser uma forma de pegação).
O mais importante é lembrar que não monogamia não está atrelada à ideia de quantidade, mas a de respeitar seus afetos, autonomia e individualidade
Eu sou quase uma não-mono não-praticante! hahaha É uma piada, claro, porque é muito comum acharem que eu deveria ter contatinhos e aventuras, quando na verdade eu mal penso e tenho vontade disso. E, por mim, tudo bem!
8. Casal que faz swing, ménage, é não monogâmico?
Não necessariamente. Muitos casais podem realizar fantasias e fetiches juntos sem que exista uma preocupação em repensar a estrutura hierárquica e de posse em outros aspectos da vida afetiva. Nesses casos, são chamados de casais liberais que podem ser, ou não, não-monogâmicos também!
9. Como lidar com o julgamento da família, amigos e filhos?
Lembrando que vão te julgar de qualquer jeito! Que pelo menos seja por algo que você, de fato, escolheu viver.
10. Como abordar isso com quem você se relaciona sem parecer que já estou interessada em alguém e só quero evitar a culpa da traição?
Infelizmente, não tem jeito fácil. Todo o nosso imaginário romântico foi construído em torno de um amor só, capaz de contemplar todas as nossas angústias e desejos. Crescemos acreditando piamente em relações entre duas pessoas que se encontram e se completam, se tornando um só e nunca mais dependem de mais nada nem ninguém.
Se distanciar disso dói.
O mais importante para quem quer abordar o tema dentro da relação é lembrar que a pessoa que está propondo algo novo já teve tempo de elaborar essa questão, refletir sobre ela, pesar prós e contras. A outra parte, em geral, é pega de surpresa. Esperar uma reação tranquila e racional, geralmente só cria frustração.
Então, não tem receita infalível, mas levar todas essas questões em consideração e acolher os sentimentos que virão à tona, me parece o melhor caminho. Nessa hora, controlar a ansiedade e dar tempo ao outro, é importante.
Agora me conta, você tem mais alguma dúvida sobre relações não monogâmicas? Há algo aqui que despertou mais curiosidade? Compartilhe nos comentários e acompanhe o meu podcast para entender mais desse universo!
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