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Com tirinhas geniais, ela conquista fãs mostrando a vida simples no campo
Com tirinhas geniais sobre o próprio cotidiano, a desenhista Thaís Carmo, 26, é um sucesso no Instagram: mais de 130 mil pessoas acompanham a vida da personagem que está sempre rodeada de bichinhos e em meio à natureza.
O que pouca gente sabe é que o caminho até realização profissional foi bem tortuoso. Diferentemente do que se possa imaginar, Thaís não era daquelas crianças que faziam desenhos primorosos na infância. E a arte também não foi sua primeira escolha acadêmica - foi a terceira.
Quando se formou no ensino médio, estava em dúvida entre cursar design de moda e veterinária. Acabou estudando um ano de arquitetura e um ano e meio de agronomia na Universidade Federal do Rio de Janeiro. "Nada foi planejado", entrega ela entre gostosas risadas.
Um dia, por sugestão de um amigo, Thaís migrou da agronomia para a faculdade de belas artes. "Fiz a prova e acabei passando. Pensei que não iria conseguir porque, diferente de agronomia, que eram 75 vagas, em belas artes eram 25", conta ela, que na época não botava muita fé no próprio talento.
"Comecei a fazer belas artes e, para surpresa de ninguém, eu também não era a melhor da minha turma", diz, com a maior sinceridade do mundo.
Durante o curso, Thaís fazia e vendia bordados, aquarelas e até docinhos para conseguir uma renda extra. Mas com o passar do tempo entendeu que precisava ter metas mais específicas. "Não adiantava atirar pra tudo quanto é lado. Se quando me formasse eu tivesse fazendo quinhentas coisas, eu só teria avançado um metro em cada uma delas. Eu precisava de foco pra conseguir avançar na vida."
Pensando assim, ela começou do zero no Instagram, no final de 2017. O objetivo era conquistar 10 mil seguidores em dois anos, e chegar a 100 mil em três ou quatro anos.
"Eu pensei: 'eu sei que eu não sou boa ainda, mas o importante é começar. Ninguém vai ser genial todas as vezes. Ninguém começa bom", conta ela, que postava e saía do aplicativo, com receio do julgamento do público.
Em nove meses ela conquistou 10 mil seguidores no Instagram, lançou seu primeiro livro, a coletânea de tirinhas "Engraçada, Mas Nem Tanto", e participou de sua primeira Comic Con, um dos principais eventos de cultura pop do país.
Trabalhando como nunca, "ligada no 220v", Thaís sentiu os primeiros efeitos do excesso de demandas.
"Era tudo muito novo pra mim. Tava finalizando a papelada da faculdade pra me formar, fazendo tirinha pra internet praticamente todos os dias e fazendo encomendas pra tirar um dinheiro por fora. Nesse frenesi todo, meu braço travou. Perdi os movimentos de três dedos da mão direita e do meu pulso por quase um mês. E mesmo depois que os movimentos voltaram, eu não parava um segundo e tava com um cisto enorme no meu braço. Eu ficava olhando o Instagram, checando as curtidas, pesquisando como crescer na plataforma. Ficava tentando fazer amizades, vender meu peixe e tentando crescer", revela.
Nesse período, Thaís morava no Rio de Janeiro e planejava se mudar para São Paulo. Antes, decidiu passar uns dias na casa de campo de uma amiga em Saquarema, a 100 quilômetros da capital carioca. Sem internet por lá, a cartunista teve tempo para refletir sobre suas novas prioridades. E planejou passar um tempo com a mãe em sua cidade natal, São Francisco, com 53 mil habitantes, no interior de Minas Gerais.
A estadia em Minas, que seria temporária, se tornou permanente por causa da pandemia. Com um vasto quintal, cheio de frutas e verduras, e acesso fácil ao rio São Francisco, Thaís enxergou novas possibilidades. E passou a compartilhar a rotina no campo não só nas tirinhas, mas também nos stories. "Muitos seguidores nunca tinham visto uma espiga de milho", comenta.
O movimento de migração dos grandes centros urbanos para as cidades menores já é uma tendência. De acordo com a mais recente estimativa de população realizada pelo IBGE, as cidades que têm entre 100 mil e 1 milhão de habitantes vem crescendo a um ritmo até 50% mais acelerado que nas capitais.
"Aqui eu não fico o tempo inteiro trabalhando. Tenho tempo pro meu braço descansar, pro meu corpo sofrer menos, e posso adotar os cachorros que eu sempre quis. Minha qualidade de vida melhorou mil por cento. Esse pensamento de você trabalhar até se matar é muito da geração da minha mãe, sabe?! Eu tenho 26 anos hoje. Minha mãe aos 26 tava se matando de trabalhar em São Paulo. Hoje em dia acho que em vez de se matar pra ter uma aposentadoria no final, você pode ter mini aposentadorias ao longo do tempo. Ter um tempo pra sair e respirar sem só pensar em trabalho. Acho que é do que a vida se trata."
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