Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.
Salve a cachorrada! Alma do BBB, Gil é vitória de quem sobrevive à rejeição
Desde o primeiro dia do BBB 21 um participante chama a atenção justamente por não parecer um competidor — lembra mais um hostess de balada, daqueles simpaticíssimos que te recebem na porta, te apresentam cada canto da casa com um sorriso largo, a fala efusiva, e que terminam a noite fritando na pista.
Esse é Gil Tchaki Tchaki, o Gil do Vigor, que está no paredão desta terça (6) no BBB, enfrentando os agroboys homofóbicos: Caio e Rodolffo.
Gay, criado na igreja mórmon, o economista de 29 anos tem uma história de complexas camadas. O pernambucano cresceu testemunhando as agressões do pai à mãe. E foi rejeitado pelo progenitor: primeiro, por não ser negro retinto como ele; depois, por ser homossexual.
Via na igreja um refúgio, mas também um martírio e chegou a ser expulso devido à sua orientação sexual. Já foi noivo de uma mulher e teve diversas atitudes homofóbicas ao longo da vida —como ele mesmo confessou, com lágrimas nos olhos, em conversas no reality. Praticar a homofobia era uma tentativa desesperada de evitar apontamentos sobre a própria sexualidade.
Junto a Lucas Penteado, Gil protagonizou o primeiro beijo gay em 21 edições do BBB. E armou barracos (fez o Brasil inteiro pesquisar o significado da palavra basculho, por exemplo, ao discutir com Pocah). Se aliou desde o início do programa à sister Sarah e depois, à Juliette — mas acabou se desentendendo com esta última, favorita dos espectadores, e foi julgado. Agora tem se reposicionado no jogo, já até pediu desculpas para Juliette.
Elétrico? Volúvel? Instável? Sim. Sim. Sim. Neutro, jamais. De genuinamente emocionado a vetezeiro inconfesso, ele não para. E, com isso, desperta todo tipo de sentimento. Exceto a neutralidade.
Gil "zerou" o BBB. Foi monstro, líder, anjo, atendeu o Big Fone, voltou de um paredão, ganhou um carro e fez muita cachorrada, como gosta de dizer, entre uma conquista e outra. "Fazer cachorrada", para o pernambucano, é expor seu lado vibrante: os trejeitos afeminados, os gritinhos estridentes e as afirmações despudoradas sobre sexo. Além, de claro, bater suas três palminhas antes de estourar em alguma discussão.
O cantor sertanejo Rodolffo, que num vídeo antes de entrar na casa alegou adorar "a criatura gay", já disse sentir "nojo e pavor" das cachorradas de Gil. Viih Tube, numa conversa com Thaís, comentou que se incomoda com a cachorrada do economista: "acho chato, triste, sem noção e palco". No Jogo da Discórdia desta segunda (5), Viih chegou a dizer que teve medo de Gil.
Durante o confinamento no programa, o "chato" foi aprovado com bolsa para fazer seu pós-doutorado (PhD) em ao menos cinco universidades no exterior e recebeu uma homenagem da embaixada brasileira nos Estados Unidos pelo feito.
Dias atrás, num desabafo com o agroboy Caio, Gil revisitou seu passado: "Já dormi na rua. Eu sei o que é ter um pai viciado, que batia na minha mãe. Ser despejado de casa porque não tinha como pagar o aluguel. Tudo o que eu passei... Até a minha sexualidade, dentro da igreja, eu tinha que esconder. Então como é que você vive sabendo, o tempo inteiro, que você é amaldiçoado. Eu precisava dizer assim: 'como eu vou sobreviver a isso?'".
A cachorrada é a celebração de quem venceu a violência, a fome, a pobreza e sobrevive, diariamente, à rejeição.
Enquanto escreve o capítulo mais colorido de sua história, Gil inspira outros a seguirem seus passos livres. Salve a cachorrada! Salve Gil!
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