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Influenciadores com deficiência fazem sucesso nas redes falando de sexo
Pessoas com deficiências (PCD) têm feito muito sucesso nas redes sociais falando sobre temas comuns a todos: amor, relacionamento, sexo, inseguranças, trabalho.
Apresento aqui alguns desses influenciadores:
Maria Paula Vieira @mmaria_vieira
O tom informativo e bem-humorado de Maria Paula Vieira, 28, faz sucesso no Instagram. Jornalista, fotógrafa e modelo, a paulista de Santo André tem 13 mil seguidores na rede e é uma das principais referências entre ativistas PCD, sigla para pessoas com deficiência.
"Eu sempre falo que toda minoria nasce ativista, mas só não descobriu porque nossa resistência diária é um ato político. Estar na rua enfrentando todo o sistema, olhares, opressão, é uma forma de lutarmos ativamente contra um sistema que o tempo todo quer nos oprimir, um sistema que não se preparou para nós e não esperava que estivéssemos aqui", diz ela, que é cadeirante.
Com um perfil versátil, entre uma postagem explicando o capacitismo e outra, o orgasmo, Maria Paula também investe em vídeos de curta duração, os reels, que viralizam na plataforma com críticas ácidas sobre a falta de representatividade de pessoas com deficiência na grande mídia. "Criar conteúdo é uma forma de chegar a mais pessoas e levar informações cada vez mais longe de forma didática e gratuita."
Para ela, que trabalha há dois anos como produtora de conteúdo, há uma mudança de mentalidade em curso, mas de forma muito lenta.
Ainda acontece muita discriminação, em todos os âmbitos, inclusive pessoais. Existe muito preconceito em se relacionar com pessoas com deficiência, tanto pela questão da própria mentalidade, quanto das pessoas ao redor. Percebo que tem sempre uma questão 'se eu namorar uma pessoa com deficiência, o que vão falar?'. Por isso, sempre vejo relatos de seguidoras, amigas, de não serem assumidas pelos parceiros, relata
Ela conta que já teve três namorados e que em cada um dos três relacionamentos os rapazes eram parabenizados por estarem com ela. "Como se fosse uma caridade. Não façam isso! É uma relação de amor como qualquer outra, os dois se ajudando."
Vanessa de Oliveira, a @vanessagrao
A terapia foi fundamental para a influenciadora alagoana Vanessa de Oliveira, 32. Seu processo de cura emocional, inclusive, está intimamente ligado ao seu ativismo nas redes, que começou há um ano.
"Sempre fui uma pessoa muito calada. Muito mesmo! Eu passava por situações chatas e ficava calada. Até que um dia fui parar numa emergência de hospital achando que tava morrendo (minha primeira crise de ansiedade). Daí comecei a fazer terapia, que era algo que nem passava pela minha cabeça, porque para mim eu era super bem resolvida (risos) — a iludida", recorda brincando.
"Um dia, minha psicóloga falou sobre a potência que ela via na minha fala, no quanto eu podia falar sobre o que eu sabia para as pessoas. E eu sempre amei rede social, só me faltava coragem. Foi a partir daí que tomei coragem para começar a escrever sobre algumas vivências."
Com leveza e algumas doses de ironia, Vanessa milita pela causa PCD e LGBTQIA+ em seu perfil no Instagram, que é acompanhado de perto por quase 5 mil pessoas. Lá, a história de amor que ela vive com a designer Tháfiny Braz renova as esperanças dos seguidores no amor. As duas estão juntas há oito anos e são casadas há dois.
Já chegaram a me falar que a foto do meu casamento fez acreditar que pessoas com deficiência também estão no mundo para serem amadas. Isso é muito lindo de se ouvir. Mas é bem isso mesmo! O capacitismo me fez acreditar por vezes que o amor não era pra mim, mas hoje eu vejo que o problema não está em mim, e sim no preconceito das pessoas
Ivan Baron, o @ivanbaronn
Aos 23 anos, formado em pedagogia, Ivan Baron é um fenômeno nas redes: tem quase 100 mil seguidores no Instagram e mais de 170 mil no TikTok. Sucesso que aconteceu de forma espontânea. "Tudo começou na metade do ano de 2018, naquele ápice dos movimentos políticos e sociais. Eu sentia falta de uma liderança PCD falando sobre as nossas necessidades, puxando o debate para o capacitismo. Jamais esperava por tamanho carinho que recebo nas redes", revela Ivan, que tem paralisia cerebral.
Autor do e-book "Guia Anticapacitista", ele expõe:
É preciso libertar nossos corpos de certas construções sociais. Na internet, não poderia ser diferente. Quem diria que corpos com deficiência ocupariam o feed do Instagram? Uma rede social de filtros e mais filtros que maquiam a realidade. Muitas pessoas com corpos 'diferentes' ainda os escondem, têm medo, acham que não são capazes de mostrar o que têm de mais bonito para o mundo ver
Na hora da paquera, o influenciador, que é de Natal (RN), revela que já sentiu muita insegurança, principalmente pelo padrão que a masculinidade tóxica impõe. "Homens com deficiência estão a todo momento quebrando essas barreiras. Sempre tento levar esse capacitismo disfarçado para o lado do humor. No final dá tudo certo", diz.
Um dos vídeos mais populares de Ivan traz cantadas inclusivas como "Tá esperando o que para ocupara a vaga preferencial no meu coração?!".
Julia Aquino, a @xuliaaquino
Estudante de psicologia e influencer PCD, a carioca Julia Aquino, 23, não imaginava que o que ela fazia despretensiosamente nas redes alcançaria tanta gente: são mais de 13 mil seguidores no Instagram e no Twitter.
"Meu ativismo online começou no final de 2018. Comecei a falar sobre capacitismo e pautas que envolvem pessoas com deficiência. Eu achava que ia alcançar só a minha bolha, que ia ficar num grupo pequeno, até porque a minha intenção era essa, representatividade pras mulheres negras, lésbicas e com deficiência. Eu queria que elas, assim como eu, se vissem em alguém. Pra mim, era algo mais simbólico, de identificação, eu não esperava atrair tantas pessoas de tantas bolhas. Fiquei muito surpresa - e ainda fico", entrega Julia.
O entendimento da própria sexualidade, aliás, percorreu um longo caminho: aos 13, Julia se apaixonou por outra menina e as duas começaram um namoro virtual que durou alguns meses. Aos 14, ela se assumiu lésbica para a mãe que, apesar de acreditar que era "apenas uma fase", aceitou numa boa. O problema eram as pessoas próximas, que invalidavam completamente sua orientação sexual.
"Amigas de colégio falavam como se eu só tivesse 'me tornado lésbica' por conta da deficiência. Ouvi diversas vezes 'ah, você escolheu se relacionar com mulheres porque as mulheres aceitam bem melhor'. Na visão dessas pessoas, outras mulheres me aceitariam mais do que um homem, por exemplo."
"Sempre fui colocada na posição de uma pessoa que não tem sexualidade, de uma pessoa infantilizada. Me sentir mulher, me sentir desejada, me sentir sexy, esse monte de coisa foi algo que fui construindo aos poucos. É um trabalho diário. Eu devo isso à terapia, principalmente, mas também à essa união com outras mulheres com deficiência. Mulheres lésbicas com deficiência, mulheres negras... Fui me sentindo cada vez mais forte e confiante e enxergando que tudo bem, sabe?! Tudo bem ter o meu corpo com marcas, com cicatrizes de cirurgias, com malformações, enfim, do jeito que ele é. Isso não me faz ser menos mulher, não me faz ser menos atraente, menos sexy", pontua.
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