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Avó aos 36, lésbica e ex-Masterchef: "Avós também transam e provocam tesão"
"Eu sabia que não era igual às minhas outras amigas, mas na década de 1990 isso era muito complexo. Havia muito preconceito e eu não entendia o que tava acontecendo comigo. Lembro que desde criança tinha atração por outras meninas, mas algo despretensioso. A minha Barbie beijava a outra Barbie, aqueles clássicos de menina", recorda a empresária Caroline Merone, de 41 anos, de Americana, no interior de São Paulo.
Caroline ficou grávida do primeiro namorado aos 17, mas o relacionamento durou pouco. "Me casei por aquela coisa de cidade do interior, 'limpar a imagem' e coisas assim. Apesar da gente se gostar, a gente não deu conta do recado e nos separamos quando a minha filha tinha um ano e meio", conta.
Aí continuei tendo relacionamentos heterossexuais, só que eu não era feliz. Algo faltava. Eu segurava a onda durante um tempo, depois não conseguia me sentir parte daquele relacionamento
Caroline teve dois casamentos heterossexuais, de onde vieram os filhos: Thayná, a primogênita, hoje com 24 anos, e Felipe, de 17.
No início, Carol acreditou ser bissexual: "tinha muitas fantasias com algumas mulheres e fui começando a identificar que havia em mim pelo menos uma bissexualidade".
Primeiro beijo homoafetivo aos 29: "Insisti muito na vida hétero"
Ela só deu o primeiro beijo em uma mulher aos 29, após o término do segundo casamento.
"Foi um processo de zero culpa, não me senti mal por isso. Me permiti viver. Insisti muito nessa vida hétero, é meio compulsório o negócio. Eu realmente questionava qual era o meu problema, por que eu não dava conta, por que eu não era como minhas amigas. Demorei muito para construir uma autoestima como mulher e me descobrir."
Depois do processo de afirmação da própria sexualidade, como mulher lésbica, Carol passou a enfrentar outra questão: a rejeição no próprio meio LGBTQIA+.
"Acho que tem muito a ver com o fato de eu ser mãe, de eu não me encaixar numa panelinha e de ter descoberto a minha sexualidade de maneira tardia. Havia muito preconceito das meninas pelo fato de eu já ter sido casada, muitos boatos e questionamentos 'será que ela é lésbica?', 'será que ela é bi?', 'será que ela quer um ménage?'".
As especulações sobre a vida íntima da empresária não a impediram de ter um relacionamento homoafetivo sério e duradouro. Carol viveu um casamento de 11 anos com uma mulher. E no meio dessa história a duas, ela se tornou avó.
"Não é porque eu sou avó que isso tem que ser broxante"
"Foi muito difícil para mim. Eu não queria que a minha filha repetisse o padrão da maternidade na adolescência. Thayná engravidou aos 19 e fui considerada culpada, muitos me julgaram. Fui apontada como 'a mãe lésbica que talvez tenha sido liberal demais', o que não tem nada a ver, isso não aconteceu. A história dela é completamente diferente da minha. Ela e o companheiro estão juntos e são superfelizes, uma família linda", derrete-se a avó de Benjamin, de 4 anos, e Frederico, de 2.
"Ser uma avó que transa é algo surreal. As avós transam, as avós têm desejo, têm tesão e despertam tesão. E aí você reconstrói uma ideia de avó sexualmente ativa, de avó que é desejável. Sim, não é porque eu sou avó que isso tem que ser broxante."
Lésbica no MasterChef
No ano passado, Carol, que é professora de inglês e proprietária de uma escola de idiomas, se lançou em um novo desafio: disputou o "MasterChef", da Band. Apesar de não ter sido campeã, orgulha-se de ter falado abertamente sobre sua orientação sexual no programa.
"Falei com naturalidade sobre ser lésbica e minha autoestima mudou muito. A reação das pessoas foi superpositiva. Aquele medo que eu tinha de ser quem eu sou eu não tenho mais, e o 'MasterChef' fez parte dessa caminhada. Acho que a gente tem que naturalizar os relacionamentos homoafetivos. Falo da importância da homoafetividade porque a sexualidade é consequência do afeto. Não adianta a gente ir contra quem a gente é. A vida tem que ser vivida de uma maneira verdadeira. Não existe saída, plano B, exceto ser quem você é."
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