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Youtuber, trans e sapatona: "Sinto atração apenas por mulheres"
"Você sabia que não é por ser trans e lésbica que necessariamente eu sou a ativa da relação? Na verdade, eu posso sentir até disforia de gênero com essa parte do corpo e preferir nem usar. Ser trans quer dizer apenas que eu me entendo como mulher, não a forma que eu gosto de fazer sexo. Se quiser saber mais, me segue aí", dispara a publicitária gaúcha Natália Rosa, 30, num vídeo que viralizou no Instagram e no TikTok. Disforia é uma desconexão entre o sexo com que a pessoa nasce (biológico) e o gênero com o qual ela se identifica.
Produtora de conteúdo, Natália tem dois canais no YouTube: Forasteiro, criado há oito anos e que traz temas relacionados à propaganda e marketing, com mais de 125 mil inscritos; e Praticamente Inofensiva, mais intimista, sobre vivências LGBTQIA+ e que acumula quase 1 milhão de visualizações desde sua estreia, há um ano e meio.
"Eu tinha um canal (Forasteiro) que foi construído antes da minha transição de gênero. O que eu trouxe dessa época foram as habilidades com a câmera, com a edição. Só que eu era uma pessoa completamente diferente, então muitas coisas eu tive que reaprender, foi um desafio. Já mudei completamente meu jeito de falar, de me expressar. Tem a ver com estar mais acostumada com a minha nova imagem, com a nova pessoa que me tornei nos últimos anos, mas está sendo maravilhoso", celebra Natália, que começou sua transição há quatro anos.
Transição aos 26
Com pais conservadores, Natália lembra que o início não foi fácil.
São pessoas boas, mas um pouco puritanos. Ter uma pessoa trans na família, a filha se assumindo já numa idade avançada, chocou. Demorou mais de um ano para absorverem toda essa informação, para a camada de transfobia que existia dentro deles se dissipar e o amor prevalecer na nossa relação."
As duas irmãs de Natália aceitaram "supertranquilamente" a transição, segundo a youtuber. Ela diz ter se impressionado com os apoios "surpresa" que vieram de onde ela menos esperava.
"Meus amigos próximos eram homens heterossexuais e cis (que se identificam com o sexo biológico), só que com a mente muito desconstruída. Então quando me assumi, recebi muito apoio deles. E esses quatro amigos que me apoiaram e me apoiam até hoje foram superimportantes nessa trajetória. Tu não sabe de onde vai vir o apoio e de onde não vai vir. Tu tá lidando com uma semente que está dentro das pessoas e não sabe se no fundo ela é transfóbica ou não. Tu só vai descobrir quando essa questão de enfrentamento vier à tona."
Preconceito nas redes
Natália conta que chega a receber até dez mensagens transfóbicas por dia. Parte delas, de grupos específicos pertencentes à própria comunidade LGBTQIA+: "lésbicas mais aliadas com o feminismo radical, que exclui mulheres trans propositalmente, não sei com que intenção; muitos gays machistas e que reduzem a pessoa ao órgão genital, e pessoas bissexuais que declaram abertamente que não se relacionariam com pessoas trans de forma alguma, apenas com pessoas cis".
"Sapatrans"
Não foram poucas as vezes em que Natália ouviu "que seria 'mais fácil' não ter transicionado, já que sentia atração por mulheres". Frase que, além de extremamente preconceituosa, é carregada de desconhecimento: identidade de gênero (masculino, feminino, não-binário, entre outros) não tem nenhuma relação com orientação sexual (heterossexualidade, homossexualidade, bissexualidade, assexualidade e uma vasta gama de possibilidades).
"Eu sempre fui uma mulher. Só que acabei sendo direcionada a uma vivência como menino para não decepcionar as pessoas, para não chocar. Fui jogando o jogo que a vida me colocou, de tentar circular na sociedade de uma forma conveniente para o mundo, mas que não era nada conveniente, nem feliz para mim", diz.
"E sou uma mulher que sente atração exclusivamente por outras mulheres, sejam elas cis ou trans. Não sinto atração por homens. Inclusive cheguei a experimentar, para ver se não tinha um pezinho na bissexualidade ou em outro tipo de sexualidade, mas realmente não houve identificação, não é para mim. Faço questão de falar que sou trans e lésbica exatamente porque quando fui fazer a minha transição senti falta de representatividade, por isso hoje concentro parte do meu esforço criativo nessa direção."
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