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Gabeh, do BBB1: "Hoje não me considero assexual, mas não sou transante"
Cantor, escritor e desenhista, André Gabeh foi também o primeiro representante da comunidade LGBTQIA+ no Big Brother Brasil (Globo). A edição de estreia de um dos realities mais aclamados do país aconteceu há 19 anos e atualmente é reprisada pelo canal Viva.
No programa, André teve uma trajetória marcante, que pode ser comparada à de Gil do Vigor, e foi um dos finalistas: ficou em terceiro lugar, atrás de Vanessa Pascale e Kleber Bambam.
Se hoje há uma fórmula mais ou menos conhecida de sucesso para conquistar corações e mentes — servir entretenimento —, quase 20 anos atrás tudo era experimentação. Os confinados, a emissora e até alguns artistas convidados tateavam no escuro e, muitas vezes, escolhiam caminhos bastante questionáveis.
"Fui o 1º a ter sexualidade exposta 24h por dia; meu medo era sair e levar um tiro"
André viu alguns de seus ídolos como Jô Soares, Chico Anysio e os humoristas do Casseta & Planeta debocharem de sua sexualidade.
Eu tive que ouvir as visitas me chamarem de fresco e de veado. Ícones da TV foram lá me agredir. E meu medo era só andar na rua e levar pedrada, levar tiro. Estamos falando de 2002. Todos os gays que apareciam na TV tinham o revestimento de ou já serem conhecidos ou estarem se mostrando profissionalmente. Fui o primeiro cidadão normal a ser visto 24 horas por dia e tendo sua sexualidade exposta. Eu só queria viver e o povo estigmatizando meu c* e meu pinto.
Dias de luta: "Me ver ridicularizado por ídolos na TV me chocou"
Gabeh conta que afirmava ser assexual por autonegação e por problemas de autoestima profundos. "Eu meio que sublimei minha sexualidade. Na época, estava começando uma fase de autoaceitação, mas ainda era bem inexperiente. Quando falei em assexualidade no BBB, não menti. Me ver ridicularizado na TV por ídolos meus me chocou. Imaginar meus pais vendo aquilo me trucidou. Me senti sozinho, machucado e exposto. Hoje não me considero assexual, mas realmente não sou muito transante. Mas até gosto (risos)."
Dias de glória
A visibilidade conquistada no BBB alavancou a carreira artística de Gabeh, que assinou um contrato com uma gravadora, lançou dois CDs e fez shows pelo Brasil todo.
"Eu não tinha noção do que seria o programa, da repercussão. Para mim, foi ótimo. Eu era um artista que participava de uma banda cover maravilhosa, banda Libido, cantava num restaurante, mas não tinha um trabalho autoral. A partir dali eu consegui um contrato com a Som Livre, vendi meus CDs, trabalho com meus livros."
Escritor e ilustrador de "Suburburinho", "Suburburinho 2", "Crônicas de A a Z", "Amores Confinados", "Nunca Foi Sorte Sempre Foi Macumba" e os infantis "Bizum e Barnabé Visitam a Terra Mãe" e "Amora Gaia Terezinha e Seus Carrinhos Divertidos", André ora apresenta sua verve cômica, ora sensível.
"Amora Gaia é um poema sobre uma menina que ama brincar de carrinhos. Bizum é um menino que resgata sua autoestima visitando a África ancestral com a ajuda de um gato preto mágico", revela o autor.
Durante a pandemia, Gabeh também tem ministrado oficinas de escrita criativa.
Sem medo de cancelamento
Multifacetado, o artista diz não ter sentido medo de um cancelamento agora, em 2021, por causa das reprises do programa "não lembrava de ter feito nada horroroso, que merecesse cancelamento, não". E analisa a onda de rejeição a estrelas consagradas no BBB21:
"Acho que as pessoas criaram uma lenda ao redor dos artistas que foram pro Big Brother - e que na verdade são pessoas muito comuns. São pessoas que revelaram seus defeitos lá e ficaram com o filme queimado porque também criaram ao redor de si uma lenda sobre o que eles eram para eles mesmos. Fica difícil você sustentar quem você não é."
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