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De cursos a confissões: o que você não sabia sobre amigos de aluguel
Já pensou em ir para Fortaleza (CE) e, de repente, aprender a produzir uma joia inteira em prata? Tem vontade de conhecer os points mais badalados de São Paulo indicados por quem nasceu e cresceu na capital paulista? Está no exterior e precisa reformar sua casa em Governador Valadares (MG)? Ou está com o coração partido e quer desabafar? Tudo isso está a um clique de distância.
No Airbnb, plataforma que disponibiliza serviços de hospedagem e turismo, é possível não só alugar uma casa ou um quarto mundo afora, mas também contratar "experiências". A oficina de ourivesaria em Fortaleza, por exemplo, é uma delas. Da fundição até o acabamento final da joia são três horas a um custo de R$ 420.
Conexões e intercâmbio cultural
De forma semelhante, conectando turistas a moradores locais, o Rent a Local Friend (Alugue um Amigo Local, em tradução livre), atua em 325 cidades ao redor do mundo e atualmente conta com 1.515 anfitriões. A empresária paulistana Beatriz Mendes, de 28 anos, é um deles.
"Me inscrevi bem no comecinho, o serviço de amigo local ainda não era muito divulgado. Eu estava na faculdade, tinha nível avançado de inglês, e encontrei o site no Google. Achei a ideia muito interessante! Era uma forma de praticar o meu inglês e conhecer novas culturas. Poder receber pessoas de outros países e mostrar São Paulo, que eu amo, do jeito que eu gosto, me encantou", revela Beatriz, que tem um perfil no Rent a Local Friend desde 2014.
A paulistana já atendeu turistas americanos e europeus. O trabalho é pago em dólar, e os valores variam de US$ 20 (em torno de R$ 110), por 1 hora de consultoria online, via WhatsApp, a US$ 300 (em torno de R$ 1.650) por 8 horas de passeio presencial.
Mil em um
De olho em um nicho específico em Governador Valadares, o administrador Amarildo Alexandrino fundou a Ótima Companhia. "Muitos cidadãos daqui se mudam para os Estados Unidos em busca de oportunidades, então ficam esposas, filhos, tios e sobrinhos 'órfãos', e as pessoas me pediam diversos tipos de favores", conta.
Em 2019, ele teve um insight e abriu a empresa. "Minha madrinha foi uma das maiores incentivadoras, porque sempre tomei conta da casa dela, faço compras para ela, levo em consultas médicas. Ela e marido têm 80 anos e precisam de uma pessoa pra dar apoio. Uma tia da minha esposa, que mora nos Estados Unidos, falou que lá também têm esse tipo de serviço. A expressão 'amigo de aluguel' eu trouxe de lá, porque ela já trabalha como amiga de aluguel para um grupo de pessoas."
Além de compras e acompanhamento em consultas, Amarildo também leva animais domésticos ao veterinário e busca crianças na escola em dias em que os pais não podem. Se a necessidade do cliente é uma reforma na casa ou uma consultoria jurídica, ele atua como espécie de secretário e aciona sua rede de contatos formada por pedreiros, marceneiros, pintores, advogados, corretores, entre outros profissionais, e resolve o problema.
Amarildo explica que os valores dependem do tipo de trabalho. Acompanhar um cliente a uma consulta médica, por exemplo, custa em torno de R$ 40 a hora.
'Personal friend' e conselheira
Formada em direito e 'personal friend' há mais de quatro anos, Renata Cruz diz ter começado por acaso, quando morava em Portugal. "Minha amiga se inscreveu num curso de psicologia e queria começar a trabalhar na área, voluntariamente. Colocou um anúncio na OLX e bombou. O telefone não parava de tocar, e ela pediu a minha ajuda. Então ela parou, e eu continuei. Depois de um tempo, senti a necessidade de cobrar, porque eu também tinha gastos. Era um investimento não só de tempo, que é precioso, mas financeiro, porque eu me deslocava para ir até a pessoa, gastava com gasolina, alimentação, pedágio.
Aí um dia eu pensei: 'Gente, pera aí! Isso aqui é um trabalho —e de qualidade'.
Com foco em relacionamentos, atuando remota e presencialmente, Renata, que tem quase 13 mil seguidores no Instagram, atende cerca de 10 clientes por mês. A maioria, mulheres. Os valores variam de R$ 80 a R$ 120 a hora.
"As pessoas têm alguns entraves sobre o assunto no Brasil, é diferente de Portugal. Aqui, infelizmente, o rótulo 'amigo de aluguel', o nome do serviço, assusta. 'Pagar para ter um amigo? É o fim do mundo!'. Eu já ouvi tantas coisas... No início foi bem complicado para mim, mas nunca pensei em desistir."
As pessoas querem conversar, bater papo ou ter companhia para sair. Não é que não tenham amigos. É que às vezes querem conversar um assunto que ninguém pode saber.
"Já atendi pessoas que só me contrataram para falar coisas boas porque não queriam contar pros amigos e familiares por uma questão de inveja. Já tive clientes que tinham amantes. Para quem elas iam contar? Para as amigas? Pelo amor de Deus! Pra família? Nunca na vida! Há várias situações em que uma pessoa pode contratar um personal friend", pontua.
Há quem receba por um serviço, quando na verdade está tendo dois: manicure, cabeleireiro, advogado, empregada doméstica, babá, personal trainer, motorista de aplicativo... Muitas vezes eles acabam sendo 'personal friends' também.
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