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OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Angel e Giovanna se pegando em 'Verdades Secretas': onde mora o prazer?

Angel (Camila Queiroz) e Giovanna (Agatha Moreira) em "Verdades Secretas 2": pegação entre mulheres não é só fetiche masculino - Reprodução/Globo
Angel (Camila Queiroz) e Giovanna (Agatha Moreira) em "Verdades Secretas 2": pegação entre mulheres não é só fetiche masculino Imagem: Reprodução/Globo

Colunista de Universa

22/12/2021 04h00

Duas cenas marcantes não saem da minha cabeça: Rebeca, personagem de Andréa Beltrão, se masturbando em "Um Lugar ao Sol", e Angel (Camila Queiroz) e Giovanna (Agatha Moreira) se pegando com vontade em "Verdades Secretas 2", ambas na TV Globo.

As tramas — coerentes ou não — já deixaram um legado. Quando foi a última vez que você viu algo parecido em horário nobre, numa emissora aberta de televisão?

Aliás, quando foi a última vez que ouviu falar de siririca de forma tão explícita? Ou que viu duas mulheres se atracando com tanto desejo?

Por que, para os garotos, a masturbação é incentivada desde a adolescência e, para as garotas, não se fala com a mesma naturalidade sobre "demorar demais no banho"? Por que a imagem de duas mulheres juntas na cama ainda é mais interpretada como um fetiche masculino do que como parte inerente da sexualidade de tantas mulheres?

A gente acha que é livre, mas não é. Dogmas religiosos e estigmas culturais moldam nossos pensamentos e permeiam nossas escolhas, ainda que inconscientemente.

Rebeca (Andrea Beltrão) em cena icônica de 'Um Lugar ao Sol' - Reprodução / Globo  - Reprodução / Globo
Rebeca (Andrea Beltrão) em cena icônica de 'Um Lugar ao Sol'
Imagem: Reprodução / Globo

Abaixo os padrões limitantes

Me entender lésbica na adolescência, por volta dos 16, foi um processo. Senti medo, culpa, remorso. A posse integral sobre o meu corpo só aconteceu muito tempo depois, quando eu já tinha mais de 30. Até então, o que eu fazia na cama não era exatamente o que eu queria, mas o que eu tinha sido condicionada a acreditar que queria.

Por um lado, eu tinha rompido os laços com a heteronormatividade compulsória, o que foi um passo significativo. Por outro, me deparava com padrões limitantes. "Você não gosta de homem, então não gosta de pau", foi uma das frases que mais escutei — e acatei por anos, sem pensar muito a respeito.

Comprar um pau? Transar de cintaralho? Fora de cogitação. Usar cinta-liga e outros acessórios? Jamais! "Não preciso, me garanto, tá bom como tá", eu pensava, do auge da minha ignorância.

A gente tende a achar que sabe tudo quando é jovem. As coisas começam a mudar quando a gente passa a admitir que não sabe. A jornada é individual. Referências, todas possíveis, ajudam a pavimentar o caminho. E é isso o que vemos nas duas cenas marcantes que eu citei acima. Que venham outras!