'BBB' ou 'Round 6'? Reality tem agressões em várias edições. Eu vi de perto

Revi a cena da Maria derramando fúria e batendo com o balde na cabeça da Natália pelos menos umas dez vezes. Em cada uma delas, notava novos detalhes e ficava mais incrédula, sobretudo, com a passividade da direção diante da agressão.

Na edição em que participei, a décima, em 2010, algo similar aconteceu na minha frente. Durante uma brincadeira, a Lia deu um tapa na cara da Anamara, a Maroca. Diante do estalo seco, eu e outros participantes ficamos assustados e confusos. A regra era clara: agressões físicas não seriam toleradas e culminariam em expulsão. A Lia se desculpou com a Maroca, mas instantes depois a ex-policial foi chamada no confessionário. O destino da Lia seria definido naquele momento. Se a Anamara tivesse considerado o tapa como uma agressão proposital, Lia deixaria imediatamente a competição. Anamara considerou que tudo fez parte de uma brincadeira, que extrapolou um pouco, mas que não teria passado disso. A atitude, então, foi perdoada pela direção.

Em outra edição, um fato extremamente grave estarreceu o país. No BBB 12, após uma festa, já era quase manhã quando Monique Amin foi para o quarto e permaneceu imóvel na cama, desacordada. A partir de então, Daniel Echaniz deitou-se ao seu lado e começou a fazer movimentos sexuais. Naquele momento, nenhum outro BBB da casa sabia o que estava acontecendo, mas pelo pay-per-view a produção notou que Monique estava apagada, legendou isso para os telespectadores, mas não emitiu nenhum aviso para que Daniel parasse imediatamente.

No Brasil, praticar sexo com uma pessoa embriagada ou que não tem condições de oferecer resistência é crime, estupro de vulnerável, e a pena pode variar de 8 a 15 anos de reclusão.

Naquele ano, 2012, a mobilização do público nas redes pedindo a expulsão de Daniel foi gigantesca. Pressionada, a Globo editou os vídeos da festa de maneira assustadoramente distorcida, numa tentativa de amenizar a situação e pintar o abuso como o princípio de um romance. Não colou. No dia seguinte, a expulsão de Daniel foi anunciada. Ele foi o primeiro participante eliminado dessa forma.

Nos anos seguintes, mais confinados foram expulsos. No BBB 16, foi Ana Paula Renault, por dar um tapa na cara de Renan, seu desafeto. Na 17ª edição, foi Marcos Harter, por agredir verbal e fisicamente sua namorada no reality, Emily. Já no BBB 19, a Globo eliminou Vanderson por acusações de violência contra a mulher que teriam sido cometidas fora do programa; e Hariany Almeida, que era a favorita do público e foi eliminada um dia antes da final por dar um empurrão em sua amiga, Paula Sperling, que acabou vencendo o BBB daquele ano.

Em 22 edições, Maria é a sexta eliminada. E ela tinha consciência de seus excessos. "Ela me deixou com muito ódio, muito ódio, muito ódio e eu não raciocinei na hora que eu fiz", revelou a atriz para Viny, sobre o descarrego de fúria em Natália.

"É a segunda vez que eu sou agressiva com uma pessoa. O Arthur foi a mesma coisa, ele me emputeceu e eu fiz assim na cara dele", continuou, sobre o tapa na testa do brother.

As duas explosões de Maria aconteceram com o intervalo de uma semana entre uma e outra, ambas no jogo da discórdia. A dinâmica, que acontece às segundas-feiras, é uma estratégia da direção para gerar conflitos entre os participantes. Conflitos. Discussões. Não para transformar o jardim da casa num octógono de vale-tudo ou numa filial de Round 6.

A eliminação da participante, que deveria ter sido sumária, só foi anunciada nesta terça-feira, depois de mais uma intensa mobilização nas redes sociais. Historicamente, no BBB, muitas providências só são tomadas assim.

"Avaliamos cuidadosamente as imagens do jogo de ontem e a atitude da Maria com a Natália acabou gerando uma agressão. Com isso, Maria infringiu uma regra do programa, foi desclassificada e acaba de deixar o BBB. O paredão de hoje está mantido. Jogo que segue para todos vocês. Peguem as coisas da Maria e coloquem na despensa", disse o Big Boss, com a voz distorcida, declarando o fim da passação de pano pra Maria, o furacão do BBB 22.