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Monocular, ela superou trauma de bullying falando de autoestima nas redes
"Perdi a visão do meu olho direito aos seis anos de idade, eu era bem novinha. A mudança de aparência dele foi muito rápida e aconteceu junto com o estrabismo. A partir de então, comecei a sofrer muito bullying", relembra a fisioterapeuta e influenciadora digital Larrissa Narryma, de 21 anos. Hoje, ela acumula cerca de 80 mil seguidores nas redes sociais e alguns de seus vídeos já ultrapassam 1,3 milhão de visualizações.
A perda da visão de Larissa aconteceu por uma inflamação interna no olho direito. Um dos médicos consultados pela família chegou a sugerir uma intervenção cirúrgica, mas descobriu, durante a operação, que os danos sofridos pelo globo ocular já eram irreversíveis.
A cada 10 brasileiros, 2 têm deficiência visual
No Brasil, cerca de 20% da população possui algum tipo de deficiência visual. O levantamento é do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas (IBGE), com base no Censo de 2010.
"Eu não sofria bullying só de crianças, na escola. Sofria também de adultos. Eu tinha muita vergonha de andar na rua, sentia medo, porque as pessoas olhavam pra mim e davam risada na minha cara."
Larissa conta que desde pequena era vista e tratada de forma diferente das outras crianças. O bullying sofrido ao longo da infância fez com que ela não conseguisse se adaptar a ambientes que deveriam ser seguros e acolhedores - mas não eram -, e deixou marcas indeléveis.
"Sofri muito e acabei mudando várias vezes de escola, era bem complicada essa questão. Sentia muita vergonha de mim, não conseguia me olhar no espelho, não entendia o que tinha acontecido comigo. E eu não conhecia ninguém que tinha a mesma deficiência que eu", revela.
'A menina do cabelo no olho'
Quando ainda era adolescente, Larissa tinha um "método" pra disfarçar sua deficiência e assim passar despercebida, driblando o preconceito alheio. Aos 13 anos, ela começou a usar o cabelo de lado, escondendo o olho direito. A ideia foi uma sugestão da avó, sensibilizada pelo incômodo que a questão trazia à neta. "Ah, por que você não usa um pouquinho de cabelo sobre o olho, só um pouquinho, pra disfarçar, já que é uma coisa que te incomoda?", propôs a matriarca. E Larissa aderiu.
"A partir daquele momento, comecei a usar o cabelo sobre o olho. Tanto que as pessoas se referiam a mim como 'a menina do cabelo no olho'. Aquilo começou a me fazer bem. Minha autoestima melhorou e eu me sentia mais segura porque as pessoas vinham até mim e me tratavam de forma diferente porque elas não viam o meu olho. Mas depois alguns anos isso mudou."
Larissa usou o cabelo sobre o olho durante cinco anos, mas o que parecia uma "solução" também trazia problemas. Da dificuldade para comer tirando as mechas da frente, até o fato de ter que lidar com o comportamento inconveniente de algumas pessoas que mexiam em seu cabelo para tirá-lo do seu olho.
"Depois desses cinco anos eu já estava cansada e coloquei na minha cabeça que eu não precisava daquilo, não ia ficar me escondendo para o resto da vida. Eu saía na rua, batia um vento, e eu colocava a mão correndo pro cabelo não sair da frente do meu rosto. Tava realmente me fazendo muito mal. Cheguei à conclusão de que a única forma de me livrar do cabelo no olho era contando pras pessoas quem realmente eu sou e o que eu tenho, porque acho que a partir do momento que você coloca pra fora, isso te dá um certo alívio. E foi o que aconteceu comigo."
A virada pelas redes
Nas redes, como Instagram e TikTok, onde fala de beleza, autoestima e amor-próprio, Larissa tem mais de 80 mil seguidores e vídeos que alcançaram milhões de visualizações. Uma surpresa inesperada para quem desejava apenas contar a sua história e fazer um desabafo.
"Quando postei o vídeo explicando por que eu usava o cabelo no olho, tudo começou a acontecer. Diversas pessoas entraram em contato comigo, pessoas que também são pessoas com deficiência, que também são monoculares, e aí tudo se transformou", celebra a influenciadora.
E completa: "Nas redes, eu gosto de fazer a diferença. Esse é o meu foco, e eu tento fazer isso todos os dias. Estar ali pra mostrar pras pessoas que não tem problema você ser diferente, que eu consigo alcançar as coisas da mesma forma que outras mulheres sem deficiência conseguem. Quero estar ali pra fazer a diferença e mostrar pras pessoas que você não precisa ter vergonha de ser quem você é."
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