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'Poucas pessoas imaginam uma mulher desfeminilizada exercendo papel de mãe'
Fotógrafa, lésbica, mãe e criadora de conteúdo, a paulistana Laura Gama, 28, se orgulha de cada uma das transformações de sua vida nos últimos cinco anos. Desde o planejamento do nascimento da filha, Lavínia, ao fato de que, por causa da bebê, acabou se tornando uma importante voz materna na comunidade LGBTQIA+. No YouTube, Laura e a ex-esposa, a influenciadora Camila Lucoveis, 30, criaram o 'Mãe no Plural', canal com mais de 50 mil inscritos, onde falam sobre relacionamento, homossexualidade e, principalmente, maternidade.
Já a ex-atleta, palestrante e influenciadora Claudine Santos, que é bissexual, tinha apenas 21 anos quando a filha, Maria Eduarda, nasceu.
Representatividade
"Foi uma escolha que a gente fez, de criar a nossa família e, para além disso, compartilhar esse processo, porque a gente sentia muita falta disso, de representatividade. A gente não via ninguém fazendo esse trabalho. De lá pra cá, muita coisa mudou."
Laura e Camila se divorciaram no início da pandemia, mas mantêm laços e compartilham a guarda da filha.
"Nos separamos, mas temos uma maternidade muito alinhada, desde sempre. As questões que surgem, a gente resolve muito rápido, assim como foi super simples pra resolver a questão da guarda. A Lavínia sempre foi a prioridade", expõe.
A pequena fica uma semana na casa de cada mãe e, além das vivências e descobertas típicas da infância, participa com elas da produção de conteúdo para as redes.
Nesse vídeo, que já teve mais de 80 mil visualizações no Instagram, Lavínia e Laura aparecem em vários momentos juntas. Nele, a fotógrafa celebra o fato de ser uma lésbica desfeminilizada e mãe.
"Quando você pensa em mãe, eu tenho quase certeza que pouquíssimas pessoas vão imaginar uma mulher desfeminilizada, como eu, exercendo esse papel. Fiz aquele vídeo especialmente pra mulheres que não são vistas pela sociedade como possíveis mães ou como mães, pra elas se sentirem representadas, pra perceberem que elas podem, sim."
'Você é mãe? Você pariu?'
Após dois anos do lockdown provocado pela pandemia, Laura voltou a frequentar bares e restaurantes, e começou a conhecer pessoas novas - e a ouvir comentários de espanto sobre sua maternidade.
"Quando eu falo sobre ser mãe, vejo que é um assunto que as pessoas não sabem lidar. Fazem comentários do tipo 'Você é mãe? Você pariu?', ficam meio perdidas no assunto. Desde que me divorciei, tive alguns relacionamentos. Tive um namoro de quase um ano, e agora tô namorando de novo. Felizmente encontrei pessoas que sabem da minha história e a abraçam.
Sou uma mulher lésbica com uma filha, então a pessoa que vai se relacionar comigo tem que estar ciente disso, de que vai fazer parte da minha rotina, que é a rotina de uma mãe, e é muito diferente.
"Nunca foi uma prioridade buscar um novo relacionamento depois que eu me divorciei, mas os que aconteceram foram bons", pontua.
"Quando ela veio ao mundo, foi o dia mais feliz da minha vida"
Ex-atleta, palestrante e influenciadora, Claudine Santos, que é bissexual, tinha apenas 21 anos quando a filha, Maria Eduarda, nasceu.
"Sempre tive atração por pessoas, e não por gênero. Fiquei mais com mulheres, porém alguns homens me chamavam a atenção e nunca me privei de sentir nada. Em uma dessas vezes, conheci o pai da minha filha. Um cara legal, romântico e atencioso. Ficamos algumas vezes e, por fim, engravidei. Eu não sabia como ia cuidar de um ser humano enquanto ainda estava conhecendo a mim mesma.
A maternidade me trouxe muito crescimento. Quando ela veio ao mundo, foi o dia mais feliz da minha vida. Nasceu um bebê e nasceu uma mãe. Maria Eduarda hoje tem 11 anos e eu não sei o que seria de mim sem ela", derrete-se Claudine.
A influenciadora conta que desde que se tornou mãe, todos os dias são marcantes, mas o mais especial foi quando Duda, aos sete anos, preparou sozinha o café da manhã e levou para ela na cama. "Era Dia das Mães e ela disse: 'Feliz Dia Das Mães! Você é a melhor mãe do mundo!'. E não tem nada melhor que escutar essas palavras da boca de um filho."
Ataques misóginos
No ano passado, ao protagonizar uma campanha publicitária para uma importante marca de artigos esportivos, Claudine foi vítima de ataques misóginos no Dia da Mulher. "Por que escolheram um homem para a campanha de Dia da Mulher?", dizia um dos inúmeros comentários repulsivos no Instagram da marca.
Medalhista em competições de paratletismo, Claudine foi abraçada por uma intensa mobilização de mulheres nas redes, o que fez com que ela superasse o episódio.
Mas não foi a primeira vez que ela teve que lidar com o preconceito por não perrformar femilinidade. Ela conta que gosta de usar cabelo curto e roupas largas e já foi vítima de preconceito muitas vezes.
"Minha filha me chama de mãe, e um homem já tentou corrigi-la dentro de uma padaria, dizendo que ela deveria me chamar de 'pai', por causa do meu cabelo. Ela mesma respondeu pra ele: 'É minha mãe, sim. Tenha mais respeito!'. Ela é incrível."
Na comunidade LGBTQIA+, Claudine afirma nunca ter sofrido preconceito por ser uma mulher desfem - mas diz ter se sentido excluída por ser mãe.
"A maioria das meninas no nosso meio não é mãe e não sabe como é ser mãe, então elas não entendem muito, e às vezes excluem as que são." Mas ela afirma que nunca teve nenhum problema em me relacionar com outras mulheres, pelo contrário. "As duas pessoas com que me relacionei sempre estiveram ao meu lado e foram mães mesmo. Fiquei oito anos com minha ex, começamos quando a Maria Eduarda tinha apenas dois. E minha atual só tem 24 anos, mas quando a vejo do lado da minha filha acho que ela é mais mãe do que eu", brinca.
E completa: "Eu acredito que mães são muito melhores pra se relacionar, porque a paciência que a gente tem, não tem pra ninguém!"
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