Influencer rebate Maitê Proença: 'Lésbica não é clínica de reabilitação'

"A pior coisa pra uma sapatona na vida é 'ai, eu queria que você fosse um homem'. Lésbicas não são clínica de reabilitação para mulheres decepcionadas com homens. Não são um centro experimental de vivências diferentes para mulheres que estão querendo uma emoção na vida", dispara a influenciadora Kim Maurytie Niederauer de Freitas, de 27 anos, em um vídeo no Instagram onde critica a fala da atriz Maitê Proença sobre a namorada, a cantora Adriana Calcanhotto.

No último fim de semana, Maitê, 64, disse que queria que Adriana, 56, fosse homem. "Mas ela é mulher, gosto dela e aceito isso. Sei que as feministas e os LGBTs não vão gostar do que acabei de dizer, mas, honestamente, é assim, entendeu?", afirmou a atriz, em entrevista à revista JP. Maitê e Adriana assumiram publicamente o relacionamento no início deste ano.

No vídeo em que comenta a declaração de Maitê, Kim teve mais de 130 mil visualizações no Instagram e no TikTok.

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Sem papas na língua

"Mas o que esperar de Maitê Proença, que vem de um histórico bolsonarista, militar, recebe pensão do Estado, todo esse tipo de coisa que engloba uma visão muito errada de mundo? Como não esperar que ela ia ter uma visão sobre a lesbianidade completamente escrota?!", expõe a influencer.

Kim pontua ainda que a comparação de mulheres lésbicas, principalmente as não femininas, com homens, tem consequências estruturais extremamente graves.

"Numa sociedade que não entende que tem a heterossexualidade como um mecanismo compulsório e compara mulheres lésbicas a homens o tempo inteiro, isso é muito violento. Há casos de mulheres caminhoneiras (lésbicas que não performam feminilidade) que ao frequentar o banheiro feminino são retiradas à força e espancadas porque são confundidas com homens. Então você comparar mulheres lésbicas a homens é extremamente violento não só no âmbito individual daquela relação, mas no âmbito da estrutura. Isso não só te afeta pessoalmente, isso afeta toda uma classe de mulheres lésbicas."

"Cresci sem nenhuma referência nordestina sapatona"

"Sapatona e nordestina", como gosta de se apresentar, Kim tem 30 mil seguidores nas redes. Estudante de ciências sociais na Universidade do Estado da Bahia, ela começou a produzir conteúdo sobre lesbianidade, gênero e política há quatro anos, por representatividade.

"Me assumi, de chegar em casa e falar 'sou sapatona', aos 14 anos. Me entendi lésbica aos 13. Eu não era a pessoa que era convidada pra aniversário, sofria muito bullying, era a que lanchava sozinha no intervalo, esse tipo de coisa. Eu ficava muito sozinha, e a internet virou uma amiga pra mim"

"Minha saída do armário foi bem traumática. Minha mãe vem de uma criação mais progressista, meu pai vem de costumes mais conservadores, então era sempre um cabo de guerra. Minha mãe tava ali do meu lado me apoiando, mas meu pai sempre condenou", revela Kim, que na foto da infância aparece com a mãe, a professora Inara Niederauer, que faleceu em 2016

Identidade X coletividade

Ela conta que acompanhava perfis lésbicos na internet, mas não sentia que suas vivências eram contempladas ali. "Todas as meninas eram do sul e do sudeste. Eu não ouvia meu sotaque e eram realidades muito diferentes, até de estética. Aí pensei em produzir o conteúdo que nunca tive, porque cresci sem nenhuma referência nordestina sapatona."

Kim analisa que com o passar do tempo o cenário mudou e mais mulheres lésbicas despontaram, como a humorista Gabô Pantaleão, de Maceió (AL), que só no Instagram tem mais de 800 mil seguidores, mas ainda há muito a avançar.

"Não interessa se seu conteúdo é bom, a galera do nordeste está muito rechaçada, colocada dentro de um nicho que só serve pra fazer humor na internet. Se você sai do escopo de humor, não serve pra nada. Eu comecei a entender também que muita coisa ali não me contempla porque o que está nas cabeças é um conteúdo mais voltado pra uma esquerda liberal, uma esquerda moderada, um movimento LGBT liberal, um movimento muito queer, e eu não faço parte disso. Tô mais alinhada ao materialismo histórico, ao marxismo, a uma esquerda mais radical", orgulha-se a influenciadora, que faz das redes canais de reflexão, acolhimento e representatividade.