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Em vídeo comovente, ela se assume bissexual para o pai: 'Estava segura'

Influenciadora Luana Pierozan viralizou com vídeo em que aparece se assumindo bi para o pai - Arquivo pessoal
Influenciadora Luana Pierozan viralizou com vídeo em que aparece se assumindo bi para o pai Imagem: Arquivo pessoal

Colunista do UOL

07/09/2022 04h00

"Por que uma pessoa bissexual nunca termina uma piada?", pergunta a influenciadora gaúcha Luana Pierozan, de 17 anos, para o pai, Sadi, em um vídeo que viralizou nas redes.

"Sei lá. Nem sabia que uma pessoa bissexual não termina uma piada. São só rótulos. Não tem nada a ver o c* com as calças", responde ele, arrancando uma gargalhada da filha.

Luana então diz ao pai que a graça da piada seria ele responder com outro porquê, e ela não finalizá-la. Mas ela mal conclui a explicação e irrompe num choro aliviado. Ele entende e lhe faz um afago.

"Meu pai sempre foi uma pessoa muito aberta. Sofreu bastante preconceito na vida por ser uma pessoa com deficiência. Ele teve poliomielite e tem sequelas dessa doença até hoje, então ele sempre criou a gente, eu e minha irmã, para ter zero preconceito. Sabia que ia sair tudo bem, mas no fundo dá aquele medo: 'E se ele entender de outra forma ou alguma coisa assim?' No fundo, no fundo, dava esse medo, mas eu tava bem segura", revela a influenciadora, que só no TikTok tem quase 1 milhão de seguidores.

O vídeo, de apenas 25 segundos, viralizou. Foi compartilhado nas redes por dezenas de páginas LGBTQIA+. "Foi um alívio contar pra minha mãe, pro meu pai, pros meus amigos. Queria uma forma de gritar pro mundo, e esse vídeo foi o caminho que eu achei. Minha relação com meu pai não mudou nada, foi só esse peso que saiu das minhas costas."

Antes de se assumir, ela recorda, o receio de ter a sexualidade revelada fazia com que muitas vezes ela se comportasse como os algozes que temia.

"Tinha medo de ser bissexual e era, muitas vezes, homofóbica. Isso é bem comum, acho. Aconteceu com muita gente que conheço. Tentava provar pra todo mundo que eu não era bissexual, que nunca, jamais, nem morta eu seria. E é um ódio que você vai guardando pra si e que uma hora explode, né? Usa esse medo e transforma em ódio", desabafa.

O conflito de sentimentos em relação à própria sexualidade, bastante comum, foi agravado quando Luana teve sua orientação exposta sem seu consentimento, dois anos e meio atrás.

"O namorado da minha melhor amiga, que foi a primeira pessoa pra quem eu contei, espalhou pra todo mundo que eu era lésbica na época que eu era meio homofóbica. Ele falava que eu era apaixonada pela minha melhor amiga. E a gente sempre foi amiga, nada mais que isso. Ele falou pra muita gente na minha escola, fora da escola, pra amigos meus, e eu fiquei muito brava. Isso fez com que eu demorasse mais pra me assumir", conta ela.

Quando foi 'tirada do armário' à força, em 2020, Luana tinha apenas 15 anos. Sua família não soube, mas o trauma persiste.

"Tem algumas amigas que sei que os pais são preconceituosos, então preferi não falar pra eles. Bloqueio stories e algumas coisas pra não verem, por medo de não me deixarem mais vê-las só por causa da minha orientação sexual."

Na internet, a influenciadora se lembra de ter sofrido bifobia uma única vez, de uma pessoa desconhecida. "Na época, eu estava estudando religiões pagãs, e ela veio na minha DM (caixa privada) do TikTok e falou algo do tipo: 'Bissexual, bruxa e feminista. Já pode jogar na fogueira?'. Só ignorei. Mas, em relação aos meus seguidores, a maioria dos comentários que li eram me apoiando."