Grisalha desde os 15, ela assumiu os fios: 'Não sou menos mulher por isso'

Os primeiros fios brancos da niteroiense Keanne Jales, de 31 anos, surgiram aos 15. Aos 18, ela começou a pintar os cabelos e, aos 26, por sugestão do então namorado, hoje noivo, começou a transição capilar. A ideia era não tentar mais camuflar o gris natural, mas evidenciá-lo. E o resultado foi surpreendente.

"Não tinha muita regra para pintar o cabelo. Não era 'apareceu o branco, vou pintar!'. Deixava crescer, depois cobria. Às vezes, ficava uns quatro dedos de raiz aparecendo e, numa fase dessa, meu namorado viu que eu tinha bastante cabelo branco, falou que era muito bonito e perguntou por que eu não deixava. E esse foi o estalo. No começo, tanto na faculdade quanto nas redes sociais, algumas pessoas vinham perguntar se eu não ia pintar."

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O grisalho, segundo Keanne, é uma predisposição genética. "Meu pai e meu avô sempre tiveram cabelo branco, e sempre achei muito bonito. Não significa que sou menos mulher por isso."

A transição

Keanne, que se formou em direito, conta que no início da transição era um pouco estranho se olhar no espelho e ver o cabelo de três cores, com raízes pretas e gris e o restante dos fios tingidos de castanho, mas isso não a incomodava a ponto de querer desistir.

"Poderia ter cortado o cabelo para encurtar a transição, mas gosto dele grande e fui mantendo assim, só aparando as pontinhas quando necessário. Foram quatro anos e meio até a transição completa."

No ano passado, durante a pandemia, quando todo mundo recorreu às redes para socializar e se distrair, Keanne postou um vídeo sobre seu grisalho e, em poucos dias, a publicação atingiu quase cinco milhões de visualizações. A conquista, tão expressiva quanto inesperada, mudaria completamente a sua rotina.

"A minha área não tem nada a ver com comunicação. Sou bacharel em direito, terminei a faculdade no meio da pandemia. Comecei a seguir alguns grupos de cabelos grisalhos e fiz um vídeo sem pretensão nenhuma. Não tinha ideia de que existia esse nicho e de que tantas pessoas não conseguiam se aceitar", conta.

"Entrei no primeiro grupo e vi o quanto era difícil para elas e o quanto sofriam com comentários de amigas, parentes, maridos. Meu vídeo viralizou e milhares de novas seguidoras começaram a chegar", conta a influenciadora, que em um ano conquistou mais 30 mil seguidores —92% são mulheres.

Não era minha pretensão virar influencer, foi uma coisa que aconteceu junto com o meu cabelo grisalho

A influenciadora explica que o movimento gris no exterior, além de consolidado, está em franca expansão. A tag #silverhair (que em inglês significa cabelo prateado), por exemplo, está presente em quase 3 milhões de publicações no Instagram. Já a tag #grisalhasassumidas, assim, em português, é mencionada em mais de 50 mil postagens.

"O movimento vem crescendo porque, hoje, muitas mulheres não têm mais vergonha de botar a cara e fazer vídeo, como eu. Tem essa história de que homem com cabelo branco fica charmoso, e mulher fica feia. Por quê? Por que mulher não pode envelhecer também?", questiona Keanne.

"Muitas mulheres eram —e são— julgadas pelos fios brancos, vistas como 'desleixadas' e 'preguiçosas'. Isso só escancara o machismo, já que o homem pode ser como ele quiser, mas a mulher, não. Tem muita gente fazendo parte dos movimentos para mudar isso, e eu estou nesse meio."

Mensagem de menina de cinco anos

Entre as inúmeras mensagens de apoio que já recebeu, a influenciadora guarda com carinho a de uma menininha de cinco anos que nasceu com uma mecha de cabelo branco na franja e sofria bullying na escola por isso.

"A mãe entrou em contato comigo dizendo que as amiguinhas a chamavam de bruxa, achavam estranho. Um dia, ela até perguntou para a mãe se podia pintar o cabelo. Aí a mãe viu um vídeo meu e mostrou para a filha, e falou que tinham outras pessoas que eram assim", conta.

"A garotinha ficou toda feliz e falou que eu parecia uma princesa. A mãe me mandou um áudio no Instagram com a criança falando, e esse momento, para mim, foi especial, me motiva muito", orgulha-se.