Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.
Coloquei o DIU e não paro de sangrar: cadê o anticoncepcional masculino?
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Estou sangrando abundantemente há duas semanas por ter colocado um DIU hormonal quando recebo um e-mail com o título: "nova opção contraceptiva para homens". Ávida, abro a newsletter do portal de medicina que costuma ir direto para a lixeira. O texto começa sem novidades, dizendo que hoje três tipos de métodos contracepção masculina são recomendados pela OMS: camisinha, vasectomia e abstinência.
Não é difícil lembrar das inúmeras vezes em que, quando solteira, precisei insistir para que meu parceiro da vez interrompesse o que estávamos fazendo para dar conta do que era papel dele fazer. "Não consigo com camisinha", alguns diziam, como se aquele fosse um problema meu.
Tampouco é difícil lembrar as conversas com meu companheiro sobre a vasectomia, método pelo qual ele disse ter optado, mas que nunca levou a cabo.
O texto fala de uma pesquisa sobre o anel de elevação testicular, opção que os participantes escolheram tentar porque quase 70% dos poucos que se dispuseram a responder o questionário tinham parceiras que não toleravam bem nenhum método anticoncepcional.
Não é difícil lembrar o inchaço, as espinhas e as manchas na pele, a irritação e, principalmente, o sumiço da libido quando tentei tomar qualquer tipo de pílula anticoncepcional. "Os dados foram tranquilizadores no âmbito da sexualidade" (o uso do tal do anel não mudou a frequência e até melhorou a qualidade da relação sexual e a libido de quase todos os participantes), mas "o perfil de tolerância" não parecia ideal: 80% dos participantes tiveram pequenos eventos adversos.
Olho para cima tentando calcular se o sangramento de duas semanas, as alterações de humor ou ter engordado vários quilos com a pílula poderia ser considerado pequeno, médio ou grande evento adverso. No cálculo dos homens, provavelmente pequeno. Talvez nulo, afinal de contas, não é nenhum deles que está sentindo. O risco de trombose e AVC (que graças à sorte não tive) nunca foi grande o suficiente para interromper estudo algum sobre a eficácia de anticoncepcionais femininos.
Será que só aprovarão algum método contraceptivo masculino quando ele não tiver evento adverso algum? Será que a quase metade da humanidade que tem pênis e se reconhece como homem ainda não entendeu que isso é impossível, que remédio algum é isento de efeitos colaterais? Até quando a conta da contracepção continuará pesando sobre as mulheres se, para engravidar naturalmente, é necessário tanto uma vagina quanto um pênis?, eu me pergunto, impressionada ao perceber que eu mesma, lendo a pesquisa sobre o anel testicular, não só pensei como senti que não era justo que um homem tivesse seu testículo apertado em um anel para que uma mulher não engravidasse.
Que lugar é esse dentro de mim que ainda acredita que a responsabilidade de engravidar é só minha? Como calar esses séculos todos no meu corpo? Como calá-los, compreendê-los, modificá-los na humanidade toda —e principalmente na indústria farmacêutica?
Como transformar o silêncio dos séculos em demanda de mercado, como gritar e ser escutada, como converter o incômodo de uma no incômodo de todos?
O anel testicular ainda não é recomendado, conclui a pesquisa, por falta de participantes e porque, dentre os poucos, houve uma gravidez indesejada. Tampouco são recomendados o anticoncepcional em gel ("mais estudos são necessários"), a pílula anticoncepcional masculina ("ainda não disponível devido aos efeitos colaterais relatados, como diminuição da libido, alterações de humor e aumento da acne, por exemplo" — efeitos idênticos aos que uma mulher pode sofrer tomando pílula feminina, jamais suficientes para não disponibilizá-la no mercado) e a injeção anticoncepcional (ainda aguardando aprovação). Entre outros.
Enquanto isso, nós, mulheres que não queremos engravidar, esperamos. Sangrando, com nossa acne, oscilação de peso e humor — pelas quais também seremos cobradas e julgadas.
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