Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.
Nas redes sociais, a lógica é discordar. Mesmo que você concorde
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Escrever uma coluna por semana é um desafio. Primeiro, porque haja assunto — e haja disposição para ficar por dentro dos temas quentes, quando às vezes tudo o que eu queria era me desconectar um pouco e ler em silêncio. Segundo, porque haja tempo — ou haja coragem para lançar um texto no mundo sem o devido tempo de maturação. Terceiro, porque haja estômago — pois o custo da exposição é enorme, ainda mais quando as palavras são lidas por gente sempre pronta para gritar e apedrejar.
E essa gente somos nós. Essa gente pronta para gritar e apedrejar sou eu, é você, é nossa camada mais primitiva aguçada pelas redes chamadas sociais, inventadas porque somos, de fato, seres sociais, mas que são movimentadas mesmo é pelo nosso lado mais bélico, do qual parecem se aproveitar essa entidade monstruosa que se chama algoritmo e as plataformas que o gerem.
Porque tudo parece sempre muito bonito e limpo e civilizado nos layouts mais caprichados, mas do que as redes sociais se alimentam mesmo é de discórdia, de briga, de fofoca e de inveja. Tudo aquilo que faz parte da existência de cada um de nós e que tentamos esconder até da gente mesmo. É nosso lado mais sombrio o que gera engajamento: nossa compulsão, nossa impulsividade, nossa sede, nosso vazio.
Já recebi, nas redes, respostas a colunas que acho muito improvável que alguém tivesse a audácia de me dizer ao vivo, olhando no meu rosto. E o mais impressionante é que muitas das respostas mais agressivas concordavam com o que eu havia escrito na coluna, o que me pareceu a princípio ilógico.
Mas é essa a lógica das redes: discordar, mesmo que você concorde. Esse é o formato de comunicação que viraliza. A cada semana, o assunto da vez, sobre o qual todos se sentem compelidos a emitir uma opinião, pois, como diz Jia Tolentino em "Falso espelho", se você não aparece, se não posta, é como se não existisse.
É interessante acompanhar o ciclo da briga da vez, sobre o que, inclusive, já escrevi. Já aconteceu algumas vezes de eu, pensando no tema da próxima coluna, ter uma grande ideia, uma ideia nova, enfim!, sobre a qual logo constato que eu mesma já havia escrito algumas semanas atrás. Descubro mais uma vez que sou uma pessoa só, atravessada sempre pelas mesmas questões, e uma delas é a nossa relação com a internet, com o celular, com as redes sociais, com o tempo.
Sobre a treta da vez, ela desperta furor, mas só por alguns dias. O problema provavelmente continua vigendo, mas quando deixa de ser assunto, parece que pouco importa. Vira notícia velha e desinteressante: o ódio, enfim, também se desgasta, se autodeglute, consome a um só tempo a pessoa que o empunhou e a si mesmo.
Tenho me questionado semana a semana se vale a pena continuar escrevendo, e me perguntado, a cada vez, por que continuo respondendo que sim. Talvez porque escrever seja meu jeito preferido de pensar; talvez porque eu tenha conseguido atingir um equilíbrio no meu ritmo de escrita, como aquele que acontece quando estou correndo: um equilíbrio em movimento, com esforço.
Ou talvez eu continue escrevendo semana a semana porque, por trás das pedras, impulsionando o braço que as atira, haja alguém que tem a chance de se deixar suspender o impulso, por um instante que seja. E nesse instante, entre a vontade e o gesto, entre a dor e a raiva, cabe uma existência inteira.
Quem sabe alguma coisa, de tudo o que penso, tento, escrevo, fique. Quem sabe algo se salve das palavras num meio movido a deturpá-las.
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