Natalia Timerman

Natalia Timerman

Siga nas redes
Só para assinantesAssine UOL
Opinião

Premiação de Stênio Gardel é motivo de celebração e orgulho

"Parece um sonho", escreveu Socorro Acioli quando soube que Stênio Gardel havia vencido um dos principais prêmios literários dos Estados Unidos. Seu romance "A Palavra que Resta", traduzido por Bruna Dantas Lobato, foi o primeiro livro brasileiro a levar o primeiro lugar do National Book Award, na categoria literatura traduzida.

Um feito grandioso, enorme, motivo de orgulho e celebração para a literatura brasileira que um romance de estreia tenha chegado e nos levado tão longe. "A
Palavra que Resta" é uma beleza de livro sobre a história de um homem que aprendeu a ler depois de velho para conseguir entender uma carta deixada por outro homem, seu amor de juventude no sertão nordestino. Um homem que aprendeu a escrever também para narrar a si mesmo, numa linguagem singular que se inaugura para falar dos afetos e suas interdições.

Ao receber o prêmio, com a voz embargada, hesitante, surpresa, Stênio disse que jamais poderia imaginar estar ali, tendo crescido como um garoto gay no sertão do Ceará, recebendo tamanho reconhecimento por uma história sobre a jornada outro homem gay. É difícil não se emocionar junto quando ele diz, a todos que já se sentiram errados por serem quem são, que seus corações e seus desejos são reais.

Socorro conta que Stênio foi seu aluno desde 2014, em todas as oficinas que já ministrou, tendo cursado duas vezes a especialização em escrita coordenada por ela. Acompanhou a escrita de "A Palavra que Resta" desde o comecinho. Stênio chegou tímido, era um funcionário do TRE em sua cidade e foi fazer as aulas só para ter outra atividade criativa, sem pretensão alguma.

"Na primeira vez que vi o texto dele e disse que iria cuidar de dar coragem para que ele publicasse, parecia que eu estava dizendo um absurdo", afirma Socorro. "Ele não achava que merecia ser publicado nem em uma editora local." Aos poucos, Stênio foi trabalhando o texto, depois o enviou para leitura crítica de Vanessa Ferrari e só então, pela intermediação de Socorro, que estava segura de que a escrita de Stênio era uma preciosidade, o texto foi apresentado à Companhia das Letras e à Agência Riff, que intermediou a tradução.

Aplaudimos Stênio Gardel de pé, ele e seu Raimundo Gaudêncio de Freitas, personagem que aprende aos 71 anos a escrever o próprio nome "com traço incerto, arredio ao toque do papel". Que belas histórias, as de dentro e de fora do livro.

Opinião

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.

Deixe seu comentário

Só para assinantes