Natalia Timerman

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Opinião

As redes sociais, a turma de amigos e o sentimento de exclusão

Você abre o Instagram entre uma tarefa e outra e saltita nos stories uma foto em que aparecem, juntas, suas boas amigas. Você primeiro pensa que deve ser um TBT, elas jamais se encontrariam sem você, aí você as vê de casaco, calcula que ontem estava um frio daqueles, a garganta se fecha e o dia se nubla enquanto você conclui que sim, foi ontem, elas se encontraram todas sem você, todas reproduziram a mesma foto, felizes, sorridentes, e então você se questiona se seriam mesmo suas boas amigas.

Foi sem querer, foi por acaso, uma coisa puxou a outra e de repente estávamos todas ali, elas disseram, e você, por gostar delas, por confiar nelas, tem certeza de que não foi deliberado. Elas não te excluíram de propósito, claro que não, mas agora você questiona se isso, te excluírem deliberadamente, não seria um pouco melhor que a indiferença de terem só esquecido de te chamar.

Foi a correria, elas dizem, agora preocupadas, elas mesmo chateadas com o lapso, e mesmo que você estivesse bem aconchegada e aquecida sozinha na sua casa enquanto elas brindavam, mesmo que você não pudesse de toda forma encontrá-las ontem porque tinha um trabalho a terminar, você se sente preterida, injustiçada, você se sente ferida.

Você fica na dúvida sobre como se portar, se lhes dá um gelo, se sustenta o incômodo, e fica na dúvida até mesmo sobre como se sentir — elas não fizeram nada de errado, afinal. Mas não, você não consegue controlar como se sente, e o incômodo continua ali, no mesmo lugar.

Você pensa, você tenta se lembrar se já aconteceu outras vezes, você desconfia de que talvez fulana tenha se sentido mal quando foi a vez dela de ser esquecida, você lembra que chegou a pensar que talvez fosse melhor não postar aquela foto, mas uma parte sua queria que as pessoas soubessem que aquelas eram suas amigas, mesmo que (ou talvez justamente porque) isso pudesse machucar quem não estava lá.

Por que, afinal, postar?, você se pergunta mais uma vez, e então começa a se lembrar de todos os grupos de Whatsapp que você subdividiu para falar de determinados assuntos sem que uma pessoa específica estivesse, e a internet, as redes sociais, te pareceram então muito mais um lugar de exclusão que de conexão, um lugar em que a solidão é aguçada, em que a ubiquidade impossível seria o único remédio, a única maneira de ser feliz.

Agora você se lembra, saudosa, de quando não havia redes sociais, de quando as pessoas simplesmente se encontravam sem precisar mostrar a ninguém, e pondera, com esforço, tentando diluir a angústia enquanto fecha a aba do Instagram, que as pessoas são e continuarão sendo livres para se encontrar e fazer o que quiserem (inclusive postar).

Você vai adiante e arremata que é bonito que as pessoas sejam livres, e pondera que, mesmo quando o convite chegar, você algumas vezes vai querer comparecer e outras não (apesar de que você mesma já chegou a se sentir excluída por sua própria recusa). Você vai concluir, então, que a solução é simples: a santa ignorância, apenas não saber.

Você então decidirá, mais uma vez — agora com mais afinco — estabelecer melhor o tempo em que vai se dispor na frente de uma tela vendo a vida alheia passar, e concluirá que não há recolhimento possível se a janela para o mundo que é seu celular ficou aberta. Fechá-la, você entende com um vigor renovado, resistir ao apelo da dopamina que grita por likes, só cabe (será?) a você.

Opinião

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.

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