Por que Damares não contou que quis impedir o aborto da menina de 10 anos?
É chocante, mas não chega a ser surpreendente. Segundo reportagem da Folha de S. Paulo, a ministra Damares Alves, responsável pela pasta Mulher, Família e Direitos Humanos, agiu por de baixo dos panos para tentar impedir que a menina de dez anos do Espírito Santo que engravidou por um estupro não fizesse um aborto (que é permitido pela Constituição Brasileira nesses casos).
Na época, Damares pouco se manifestou. Só disse que mandaria equipe para cuidar do caso. Mas não disse quais eram seus planos ou intenções. Ela nem participou do debate, que causou comoção nacional e foi notícia também fora do Brasil. Damares parecia mais preocupada em continuar com seu concurso de máscaras infantis para "combater" o Coronavírus.
A reportagem da Folha prova que Damares e seus subordinados estavam, sim, envolvidos no caso, tentando convencer a família da menina e profissionais de saúde a obrigar uma menina de dez anos a continuar grávida (o que era o contrário ao que ela queria) e fizesse uma cesariana.
Uma pessoa do Ministério teria sido também a responsável por vazar para a radical Sara Winter os dados da menina e sua família. Sara compartilhou os dados nas redes sociais, fazendo com que a menina fosse obrigada a entrar escondida em um hospital enquanto era xingada de assassina.
Ou seja, Damares e sua equipe aumentaram o sofrimento da garota e de sua família. Mas, graças ao trabalho de mulheres e profissionais de saúde comprometidos de verdade com o bem-estar das crianças e de outras mulheres, o procedimento foi feito em segurança. Segundo a equipe que atendeu, o comportamento da menina já melhorou muito depois do procedimento. Ufa.
Imaginem o sofrimento de uma menina de dez anos que foi abusada sendo obrigada a levar uma gravidez até o fim e sendo obrigada a passar por uma grande cirurgia, como uma cesariana? Melhor nem imaginar. Dói. Damares achava que essa era uma boa ideia e fez de tudo para que isso acontecesse.
Mas por que Damares não se manifestou publicamente na época? Por que não disse claramente o que pretendia fazer? Por que agiu escondido? No Twitter, ela informou, em agosto, que sua equipe estava entrando em contato com as autoridades de São Mateus para ajudar a criança. Depois, que estava enviando uma equipe para cuidar do caso. Mas ela não disse o que essa equipe ia fazer nem quais eram seus objetivos. Por quê?
Provavelmente, porque sabia que não teria muito apoio. Na época, um tipo de comentário sobre o caso chamava a atenção. Muitas pessoas diziam ao comentar a notícia: "eu sou contra o aborto, mas nesse caso, entendo". "Sou cristã, mas entendo o sofrimento da criança."
Sim, ministra, a maioria das pessoas (e não só "as feministas", que a senhora tem como inimigas) entenderam que proteger a menina e realizar o que ela e sua família queriam ( e está previsto na lei) era uma questão de humanidade, de compaixão. A reportagem da Folha conta que até dentro do círculo da ministra, algumas pessoas eram a favor de que a criança realizasse o procedimento. Claro, compaixão não tem nada a ver com ideologia ou posição política.
O mais assustador: seis meninas entre 10 e 14 anos fazem aborto por dia no Brasil por serem vítimas de estupro. Essa é uma estatística terrível. E como será que a ministra está lidando com isso? Será que outras famílias e crianças também estão sendo coagidas?
A ministra poderia falar exatamente quais são os seus planos e ações e ver qual será a reação da população. Ela poderia (e deveria) inclusive, conversar com mulheres especialistas nesse tipo de assunto em todo o mundo. Saia da sua bolha, ministra, venha conversar!
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