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Nina Lemos

"País de maricas" consolida Bolsonaro como líder do machismo e homofobia

Jair Bolsonaro no momento em que chamou brasileiros de maricas - Reprodução/TV Brasil
Jair Bolsonaro no momento em que chamou brasileiros de maricas Imagem: Reprodução/TV Brasil

Colunista do UOL

12/11/2020 04h00

"O Brasil tem que deixar de ser um país de maricas, pô". A fala de Jair Bolsonaro mais uma vez corre o mundo e consolida o presidente do Brasil como um dos líderes mais abertamente machistas e homofóbicos do planeta.

Bolsonaro, conhecido mundialmente por dizer que uma mulher é feia demais para ser estuprada, nunca escondeu o desprezo que tem por mulheres e gays. Ao contrário, ele parece se orgulhar disso.

Ontem, ao discursar, ele se referiu várias vezes, em tom ofensivo a nós, jornalistas (categoria que ele também se orgulha de desprezar). Depois de chamar o Brasil de país de maricas, Bolsonaro olhou para os repórteres presentes e disse: "aí que prato cheio para a imprensa, para a urubuzada." Pelo jeito, ele sabia muito bem que a frase iria repercutir mundo afora. Mas parece, além de não se importar, até curtir a onda de choque que cria. Afinal, ele não parece querer dialogar com a parte mais civilizada do mundo, mas com uma parte da população que pensa como ele e que acha graça das suas piadas e concorda com suas opiniões politicamente incorretas, vistas como "pensamentos de homens de verdade", de um cara simples, sem frescura.

"Finalmente um presidente que fala o que pensa!" É isso aí!", comemoram alguns.

Todo mundo tem um tio do pavê, pai ou avô que acha que usar máscara é "viadagem" e que o mundo está cheio de "homossexuais terríveis" (frase usada pelo presidente para atacar um jornalista).

O tiozão macho do pavê concorda também com outra pérola dita pelo presidente, que ficou perdida no meio de tantos absurdos.

"Ódio é coisa de maricas. No meu tempo, bullying na escola era porrada, agora chamar um cara de gordo é bullying!", gritou, revoltado. Bolsonaro que, assim como milhares de pessoas, sente nostalgia de um tempo distante, onde as pessoas podiam xingar negros e gays e assediar mulheres à vontade. O tom que ele usa para "denunciar esse absurdo" faz parecer que não poder xingar alguém em paz é um problema sério para ele, saudosista dos "bons tempos" em que se podia tudo.

Não é mais assim. E, cada vez que o presidente fala esses absurdos, mais isolado do cenário mundial ele fica.

Espantar turistas?

É curioso que Bolsonaro seja abertamente homofóbico e misógino em um evento de turismo, onde o Brasil deveria ser vendido para o mundo como um lugar bacana. Ele quer convencer as pessoas a não viajarem para o Brasil?

Não é a primeira vez que ele comete esses "sincericídios" em eventos turísticos. Ano passado, ele disse que "Brasil não pode ser o país do turismo gay, temos família." E acrescentou "quem quiser vir para fazer sexo com mulheres, fique à vontade", ignorando o enorme problema do turismo sexual e também o dinheiro levado para o Brasil por turistas gays.

Difícil imaginar que um país onde o presidente se orgulha de falar esse tipo de coisa pareça uma opção segura para mulheres e gays que querem viajar. O Brasil parece mais uma piada, com um machão homofóbico no poder. E nem dá para discordar.