Eleita vereadora, viúva de Marielle é chamada de interesseira. Sério isso?
Mônica Benício tinha um relacionamento com Marielle Franco há 14 anos quando a vereadora foi assassinada no Rio de Janeiro, em 14 de março de 2018. Ela esperava a mulher chegar em casa para jantar na noite em que recebeu a notícia da tragédia. Mônica ficou viúva aos 32 anos de uma maneira estúpida. De uma hora para outra, sua companheira foi assassinada. Depois da morte de Marielle, passou por uma forte depressão e chegou a tentar se matar.
No último domingo, Mônica foi eleita vereadora na mesma cidade e partido que Mariele, o PSOL.
Mônica tem recebido críticas e ataques por conta de sua candidatura. Para muitas pessoas, ela não representa o legado de Marielle por ser branca.
Ok. Essa discussão é relevante.
Mas o que é complicado neste caso: Mônica tem sido chamada de oportunista e aproveitadora. E muitos desses ataques são feitos por outras mulheres.
Esses tratamentos algumas vezes parecem forçar aquele mito da "mulher interesseira". No caso de Mônica, um detalhe importante é que ela, assim como Marielle, também cresceu na favela da Maré. Ou seja, ela não é uma patricinha que chegou agora.
Mônica namora a cantora Marina Iris desde o ano passado. E até esse fato está sendo usado para atacá-la, como se ela namorar e usar o nome de Marielle em sua campanha seriam provas de que ela é interesseira.
Espera, é isso o que queremos para as mulheres? Que elas fiquem para sempre paradas em uma dor, tipo santas sofredoras?
Em uma entrevista à revista Marie Claire, Mônica falou sobre isso:
"O machismo coloca a viúva no lugar da castidade, da solidão imposta. Pode ter se passado um mês ou 20 anos, e vão falar: "Mas já?". Se eu fosse um homem hétero cisgênero e voltasse a namorar, as pessoas iam celebrar minha felicidade. Isso não acontece às mulheres, sobretudo às lésbicas".
Ela tem razão.
Diante dos ataques, o deputado federal David Miranda, amigo de Mônica e Marielle, gravou um vídeo defendendo a amiga.
"Mônica é uma guerreira como eu nunca vi nessa vida. Parte do que ela leva para a câmara municipal é sobre uma história que ela construiu com a Marielle, o amor da sua vida. Me espanta muito que as pessoas hoje estejam atacando uma mulher lésbica, da favela, que era casada com Marielle Franco". E perguntou: "Quem são vocês para julgarem alguém que perdeu o amor da vida?", disse.
Pois é.
Mônica estar de pé e lutando, depois de ter passado por uma dor tão grande, é uma coisa e tanto. E atenção, como mulher, lésbica, favelada, e ainda mais viúva de Marielle, ela vai enfrentar muitos ataques na câmara. E vai precisar do apoio de outras mulheres. De que lado você estará?
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