Após ataques no Instagram, Teresa Cristina lança "movimento dos sem live"
"A única pessoa para quem a pandemia foi boa foi para a Teresa Cristina". O comentário foi feito por uma amiga outro dia. Bem, boa mesmo a pandemia não está sendo para ninguém. Mas no quesito sucesso durante o tempo difícil, Teresa ganha, sem dúvida. E ainda bate recordes.
Ela é a cantora que mais fez lives no Brasil (mais de 200), talvez a que mais fez no mundo. Infelizmente, é também é a mais atacada. Os ataques foram tantos que derrubaram as transmissões várias vezes, interrompendo as lives diárias que a cantora fazia em seu perfil no Instagram. Em outubro, depois de muitos ataques, ela resolveu dar um tempo.
Agora, Teresa lançou o "Movimento dos Sem Live". Sem um Instagram para chamar de seu (em seu perfil ficou complicado fazer as lives), ela passou a ocupar perfis de amigos com milhares de seguidores, como Mariana Ximenes, Preta Gil, Bruno Gagliasso, Fábio Porchat e Gregório Duvivier.
Ontem a cantora voltou excepcionalmente ao seu perfil para uma live especial em homenagem ao Dia da Consciência Negra. Em dezembro, ela pretende voltar, com lives três vezes por semana.
Teresa não tem certeza sobre os motivos que levaram a tantos ataques. Mas dá para imaginar que o sucesso tenha a ver com isso. E também posições políticas. Teresa, uma mulher negra de 52 anos, nunca escondeu ser de esquerda e engajada, O ex-presidente Lula, por exemplo, já apareceu em uma das lives, para emoção de Teresa.
As lives da cantora começaram em março, como um jeito dela enfrentar a angústia. Hoje, Teresa está no auge. Ela escreve um livro sobre música, faz campanhas publicitárias e também se prepara voltar a fazer shows ao show ao vivo. Sua "reestreia" será dia 11 de dezembro, no Viva Rio, no Rio de Janeiro. Mas os "cristines" de outras cidades não serão abandonados. Pagando 20 reais, será possível acompanhar o show online. A rainha das lives não iria decepcioná-los.
Leia abaixo trechos da entrevista com a cantora.
Você continua tendo problemas em seu perfil para fazer as lives? Quem acha que são essas pessoas?
Por ora, estou dando um tempo. A última live foi no dia 22 de outubro. Para não ficar ociosa e com saudade, criei o Movimento dos Sem Live. Pensei: "será que no perfil com mais de um milhão de seguidores, aconteceria a mesma coisa?" Pessoas como Fernanda Paes Leme e Gregório Duvivier me emprestaram seus perfis milionários e, durante este mês, realizo minhas apresentações por lá. Até agora, sem sobressaltos. Acredito que sejam ataques de hackers, robôs, algo do tipo.
Como são esses ataques?
A primeira invasão em lives foi na homenagem ao Martinho da Vila. Mart'nália não conseguia entrar, outros irmãos e irmãs dela também não. E a live rolando. Até que foi esvaziada e acabou. Depois que passei para o horário das 20h, pessoas - ou robôs - a favor deste desgoverno (ou sem ter mais o que fazer) começaram a comentar idiotices nas lives. Em seguida, esses ataques de esvaziamento. O Instagram está esse mês todo para investigar o que acontece.
Você é uma mulher negra que sempre se posiciona politicamente. Acha que isso é um dos motivos dos ataques?
Sempre me posicionei. Reclamei dos absurdos que ouvimos das autoridades durante essa pandemia. Vi o Queiroz ser preso. Perguntei do depósito na conta da Michelle Bolsonaro feito pelo próprio. Inúmeras vezes, recebi políticos para falar de diversos assuntos que não eram política. E não só de esquerda. Eduardo Paes entrou e cantou um samba inteiro no dia da live de sambas-enredo. Não posso afirmar que isso acarretou no aumento de ataques. Não sei... Mas eles começaram a partir daí: quando resolvi fazer lives com candidatas e no dia da live sobre Martinho, todos nós pretas e pretas.
Como você lida com os haters?
Eu tento não deixar eles me tirarem do sério. Ofereço boa música, boas histórias.
Dou coió quando me sinto agredida. Não sou boba. Se encher muito o saco durante a live, é só banir. Mas as "cristiners" [fãs da live de Teresa, que criaram esse nome] e o meu pessoal são bem combativos. Não deixam esses trastes lá por muito tempo.
Você salvou a vida das pessoas na quarentena. Te salvou também? O que ganhou com as lives?
Esse tempo que fiquei longe das lives, senti saudade. Lá é um local de troca, acolhimento, carinho, música, risada, conhecimento. Ouvi novas vozes. Conheci muita gente boa e de coração grande por esse Brasil adentro.
O momento da live é uma parte boa do meu dia, neste ano em que cada dia é um ano. Ganhei fã-clube, amor, visibilidade e amplitude da minha voz. Ganhei segurança e menos timidez. Ganhei afeto.
Como está sendo esse momento para você, com a carreira bombando mas, ao mesmo tempo, no meio de uma pandemia mundial?
As lives começaram de uma preocupação séria: o medo de entrar em um quadro depressivo. As notícias começaram a ficar cada vez mais fortes e sérias. Minha mãe tem 80 anos e um grau de ansiedade muito forte. Perdi o sono. Não conseguia dormir. Absorvi notícias pesadas, aliás até hoje, né? Daí pensei: preciso fazer alguma coisa que me dê prazer imediato. Nada funcionava. Uma noite, fiquei ouvindo Dona Ivone Lara até 6h da manhã. Escutei coisas que eu achava que conhecia. Foi uma descoberta. Eu não conhecia nada. Músicas que eu nunca tinha ouvido. Todo mundo estava fazendo live, pensei: acho que vou fazer alguma coisa para falar sobre as músicas dela.
Você imaginava esse sucesso?
Não. Não imaginaria que depois de oito meses teria feito mais de 200 lives. Ganhado mais de 300 mil seguidores em redes sociais. Cantado com Gil, Caetano, Alceu, Zeca Pagodinho, Gal, Simone, Fafá de Belém, Benito di Paula... Tanta gente. Sei que levo amor e companhia e ganho o mesmo em troca.
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