Só uma capital terá prefeita em 2021: não dá para achar que isso é normal
Quando o primeiro turno das eleições acabou, havia motivos para otimismo. Afinal, vimos um recorde de mulheres eleitas vereadoras (apesar do número de mulheres continuar ínfimo quando comparado com os homens). O número de negras e trans que se tornaram vereadoras também deu um salto.
Agora, com o resultado do segundo turno, tomamos um banho de água fria. A realidade que essa eleição mostra é que mulheres na política continuam sendo exceção. E, quando uma delas entra no jogo, é tratada com machismo e vira vítima de ataques de ódio, machismo e fake news.
Ou seja, pouco mudou de 2016 para cá, quando a primeira mulher eleita presidente do Brasil foi afastada da presidência.
Os números do segundo turno são desanimadores. Apesar de toda a campanha para que se votasse em mulheres, o saldo é triste: apenas uma mulher foi eleita prefeita em uma capital brasileira: Cinthia Ribeiro, do PSDB, no Tocantins. Esse número é o mesmo de 2016, quando Teresa Surita, do PMDB, foi eleita em Roraima.
Apenas 8 mulheres foram eleitas nas maiores cidades do Brasil (as que têm mais de 200 mil habitantes). Das 96 cidades com esse perfil, apenas 8 elegeram mulheres. No país todo, o número de mulheres eleitas é de 12%.
É pouco. Muito pouco. Chega a ser inaceitável. Pensa, mulheres são mais de 50% da população. Vamos ser, para sempre, representadas por homens?
Será que é coincidência que as cinco mulheres que concorreram nos segundo turno em capitais (Socorro Neri, em Rio Branco, Cristiane Lopes, em Porto Velho, Marília Arraes, em Recife e Manuela D'Ávila, em Porto Alegre) perderam?
Quando a gente olha para os números gerais do país, a falta de mulheres na política parece ser mesmo estrutural. Para ver como isso é parte da sociedade, é só a gente pensar em quantas mulheres já vimos serem perfeitas em nossas cidades. São raras, não? Muitas de nós cresceram sem ver um exemplo de mulher prefeita em sua cidade. Isso era "coisa de homem".
Ataques e fake news
A prova de que a política continua sendo clube do Bolinha é a maneira como as mulheres que se atrevem a fazer parte do jogo são tratadas. Manuela D'Àvila, de 39 anos, candidata do PCdoB a Porto Alegre, por exemplo, foi a candidata que mais foi alvo de fake news e ofensas no Brasil, segundo levantamento feito pelo MonitorA, projeto da revista AzMina. As fake news contra Manuela tratavam a candidata como drogada, louca, "abortista".Candidata a prefeitura por Recife, Maria Arraes também foi vítima de ataques.
Ou seja, mulher jovem não pode ser candidata? Não pode governar uma cidade? Mulheres são loucas e incapazes? Claro que não. Mas pelo jeito ainda precisamos de muitos anos para provar o quanto podemos e somos capazes...
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