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Nina Lemos

F***-se a vida: "coronafest" dos influenciadores é uma tragédia sanitária

Carlinhos Maia no Natal da Vila, a festa promovida na véspera do Natal. - Reprodução/Instagram
Carlinhos Maia no Natal da Vila, a festa promovida na véspera do Natal. Imagem: Reprodução/Instagram

Colunista do UOL

28/12/2020 13h57

Na noite antes do natal, o influenciador Carlinhos Maia resolveu fazer um festão para centenas de pessoas em Alagoas. O festival da tragédia sanitária teve um saldo assustador: calcula-se que mais de 40 pessoas que trabalhavam no evento foram infectadas com coronavírus e alguns convidados foram parar na UTI.

Deveria ter servido de lição. Carlinhos Maia - que tem 21 milhões de seguidores no Instagram - devia ter pedido desculpa, mas não pediu. O que ele fez? Bateu boca na internet.

Sim, Carlinhos Maia pode ser responsável por mortes. Mas quem se importa? Ele parece não ligar... Alguns dias depois de fazer a festa e ser duramente criticado, ele postou uma foto onde sua família e amigos posam abraçados e sem máscara. Enquanto ele fazia isso, convidados ainda estavam hospitalizados. Mas fazer o que? "'F***-se a vida', não é mesmo?"

Essa frase foi dita no começo da pandemia por outra influenciadora, a blogueira Gabriela Pugliesi, que foi duramente criticada na ocasião por fazer uma festa e falar a tal frase em um vídeo. Naqueles tempos que hoje parecem ingênuos, a influenciadora perdeu patrocínios e teve que dar um tempo no Instagram por ter feito uma festa para 12 amigos. Sim, em março ficamos chocados com isso e a carreira de Pugliesi sofreu um duro revés.

Gabriela Pugliese - Reprodução @gabrielapugliesi - Reprodução @gabrielapugliesi
A influenciadora Gabriela Pugliese, cancelada no início da pandemia, por ter feito uma festa para 12 pessoas.
Imagem: Reprodução @gabrielapugliesi

Nove meses depois, mais de 190 mil mortes por coronavírus no país, influenciadores estão promovendo festões, espalhando o vírus em cidades com rede de saúde precária e nem patrocínio perderam. E, pelo jeito, o horror vai continuar nas próximas semanas.

No fim de semana, a polícia teve que encerrar uma festa que reunia 200 pessoas em Trancoso, a praia da Bahia preferida por milionários e celebridades. No mesmo fim de semana, a imprensa local noticiava um engarrafamento de jatinhos no aeroporto da região.

E, sim, também no fim de semana soubemos que Neymar planeja fazer uma festa de cinco dias para 500 pessoas, com direito a shows de famosos em Mangaratiba. A notícia da festa foi divulgada no mundo todo. Na tarde de hoje, a assessoria do jogador explicou que a festa será para "apenas" 150 pessoas e que todos os protocolos serão seguidos. Espera, no auge da segunda onda, seguir o protocolo seria não fazer festa, certo? O jogador mais famoso do país, uma celebridade mundial, virar um disseminador de coronavírus dando festa é lamentável.

Ainda dá tempo dele mudar de ideia (os patrocinadores podem reclamar e perder dinheiro é algo que ele não gosta). Seria um alívio. Festas lotadas no momento podem virar rapidamente hotspots de transmissão de coronavírus e não só os convidados, mas toda a comunidade onde a festa acontece, pode ser afetada. Exemplo: Um dos primeiros focos de propagação do Coronavírus no Brasil foi o casamento de Marcela Minelli, irmã de Gabriela Pugliesi, em Itacaré.

Claro, na ocasião, ninguém sabia da gravidade do vírus e não imaginávamos que ele iria se espalhar no Brasil desse jeito. Hoje, mais de 190 mil mortos, não existe desculpa para quem promove "coronafest". E não, não é "cancelamento". Essas pessoas precisam ser responsabilizadas por? provocar crime sanitário mesmo...