Lira: acusado de violência contra mulher pode ser presidente da Câmara?
Em 2006, Jullyene Lins, então esposa do deputado Arthur Lira (Progressistas), fez uma denúncia à polícia e exame de corpo delito no IML. Na delegacia, ela afirmou que teria sido espancada pelo marido. Segundo ela, o deputado a agrediu com tapas, chutes e pancadas. Ela relata ter sido arrastada pelos cabelos e quase desfalecido.
O deputado foi absolvido em 2015. Mas Jullyene disse, em entrevista à Folha de S Paulo publicada esse mês, que teve que mudar seu depoimento por ter sido ameaçada pelo marido, inclusive de perder a guarda dos filhos. Ela chegou a fazer outra denúncia contra o ex e também conseguiu uma medida protetiva contra ele, para que ele não pudesse se aproximar dela.
Desde 2018, Jullyene voltou a denunciar o caso novamente e a pedir proteção, falando que sua vida estava em risco.
Parece enredo de série de criminal do Netflix. Mas o Arthur Lira em questão é esse mesmo, o que concorre à vaga de presidente do Câmara para substituir Rodrigo Maia e tem muita chance de ganhar. Ele pode virar uma das pessoas mais poderosas do país.
A votação de hoje é importantíssima, já que será o líder da câmara que decidirá, por exemplo, se um impeachment contra o presidente Bolsonaro deve ou não ser aberto.
E, claro, o futuro de leis relativas ao direito das mulheres, também passarão por ele. Um acusado de violência contra a mulher e ameaças pode decidir o combate a violência contra mulher e ameaças?
O presidente da câmara dos deputados é algo como o presidente da casa dos representantes do povo. E aí? Um deputado acusado desses crimes pode concorrer a esse cargo? Se o país levasse violência contra mulher a sério, ele não poderia. Inclusive ele já teria tido que renunciar ao cargo de deputado. Mas, no país em que uma mulher é agredida a cada dois minutos, um homem com essa acusação ser um dos favoritos, infelizmente, parece até fazer sentido.
Ao se defender das acusações, Lira costuma dizer que deixou tudo nas mãos da justiça. Mas, bem, Jullyene disse que foi ameaçada. "Ele me disse que onde não há corpo não há corpo", ela disse em entrevista à Folha (!).
É assustador pensar que o futuro do país poderá ser decidido por uma pessoa que carrega todas essas acusações. "Ah, mas ele foi absolvido". "Ah, não podemos julgar". Claro que não podemos condenar. As denúncias precisam ser rigorosamente investigadas e só depois disso poderemos saber se ele é culpado ou não.
Agora, não estamos falando de um participante do BBB (e sim, já seria absurdo um participante do reality carregar essas acusações), mas de um presidente da Câmara.
Será que os deputados que votarão hoje pensarão também nisso na hora de votar? Deveriam. É o mínimo que nós, eleitoras, merecemos.