Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.
Marido da prefeita de Uberaba a defende em vídeo. Mulheres precisam disso?
No Brasil e no mundo, mulheres na política ainda são minoria. No ano passado, apenas 658 mulheres foram eleitas prefeitas no país. Elisa Araújo é uma delas. A arquiteta de 38 anos, do partido Solidariedade, é a primeira prefeita na história de Uberaba.
As coisas não têm sido fáceis para ela. Elisa tem recebido muitas críticas em relação ao seu manejo da pandemia. Acontece. Ela foi eleita prefeita e o mundo está em uma pandemia. E mesmo se ela não ocupasse uma posição de poder, isso acontece, em maior ou menor grau, com todo mundo que trabalha. Somos criticadas, nos defendemos, assim como os homens, inclusive, já que nossa capacidade de trabalhar não é definida pelo nosso gênero.
Só que o marido da prefeita, Juliano Arante, parece não entender isso. O primeiro esposo gravou um vídeo em apoio à esposa, dirigido à população da cidade. "Estou aqui como marido da Elisa", diz. E segue explicando, por 12 minutos, as atitudes da esposa, pedindo que as pessoas "parem de jogar pedra" e dando uma aula sobre o manejo da pandemia na cidade. Ele fala algumas vezes no plural, sendo que não, ele não faz parte do governo, e explica que a mulher, essa coitada, "trabalha muito".
Em um momento, ele chega a dizer: "Gostaria de chamar a atenção para os secretários, para que eles também defendam a Elisa"(!!!)
Secretários são parte do governo, não seus amiguinhos. Mas o marido da prefeita age como o pai de uma criança pequena, que dá bronca nos coleguinhas que não defendem a filha na hora do recreio. Resultado desse tratamento, o casal virou piada na cidade.
O caso de Uberaba é um exemplo perfeito de como o machismo, em sua versão paternalista, ainda opera em 2021, esse ano onde, olha só, mulheres podem ser presidentes!
Somos constantemente vistas como seres infantilizados, não capazes. Somos tão frágeis que precisamos sempre ter por perto um "homem salvador", como um marido, que vai nos defender quando precisarmos, já que não sabemos fazer isso sozinhas.
E, claro, precisamos de um "homem que explique", para que, com toda sua autoridade e saber, tudo seja esclarecido, já que, claro, quem somos nós para fazer isso?
Claro que, na verdade, não precisamos de nada disso, já que somos plenamente capazes.
E, imagine, já imaginou o marido da chanceler Angela Merkel gravando um vídeo dizendo: "estou aqui como marido da Angela. Ela trabalha muito. Ei, ministros, vocês também precisam defendê-la?" Não, isso nunca vai acontecer. Inclusive ela é casada com o químico Joachim Sauer, apesar de isso não ser muito comentado, o que é certo, já que isso não muda seu trabalho.
Por mais maridos como o de Angela Merkel, aqueles que sabem o seu lugar.
