Topo

Nina Lemos

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Merkel admite erro e pede perdão ao povo. Já Bolsonaro prefere mentir

A chanceler da Alemanha, Angela Merkel, durante anúncio de novas restrições para conter o coronavírus - Fabrizio Bensch/POOL/AFP
A chanceler da Alemanha, Angela Merkel, durante anúncio de novas restrições para conter o coronavírus Imagem: Fabrizio Bensch/POOL/AFP

Colunista de Universa

25/03/2021 04h00

"Assumo total responsabilidade. O erro foi meu." A frase foi dita hoje pela chanceler da Alemanha, Angela Merkel, uma das líderes mais poderosas do mundo, no parlamento alemão. Depois de assumir que errou, ela fez uma coisa básica, mas muito rara, se desculpou.

Não é todo dia que vemos uma (ou um) chefe de estado assumindo erros e pedindo desculpas. Deve ser por isso que, alguns minutos depois de Merkel falar essas palavras, seu discurso viralizou.

A chanceler decidiu se desculpar (e mudar de ideia) depois de um plano seu, anunciado no domingo (21), ser muito criticado. Na segunda-feira, Merkel anunciou que o país teria um feriado prolongado na Páscoa, com lockdown radical. A ideia foi duramente criticada. Na quarta-feira, ela voltou atrás, o que não é muito comum.

A maioria dos governantes, como sabemos, prefere insistir em erros ao dar o braço a torcer. Só que erros, ainda mais em uma pandemia, podem causar prejuízos econômicos e até mortes.

A administração de Angela Merkel tem enfrentado muitas críticas em relação ao manejo da pandemia, mas o pedido de desculpas fez com que ela recebesse várias manifestações de solidariedade.

"Um erro deve ser chamado de erro e, o mais importante, deve ser corrigido. Peço desculpa a todos os cidadãos".

Já pensou se mais governantes assumissem suas responsabilidades, seus erros e tentassem os corrigir? E se esses poderosos, que foram eleitos pelo povo, fizessem essa coisa básica, que aprendemos ainda crianças, que é pedir desculpa quando erramos?

Impossível não comparar a atitude da chanceler com o pronunciamento do presidente Jair Bolsonaro feito na noite de terça-feira (23).

O presidente também tem sido criticado por suas atitudes na pandemia. Claro, no caso dele não é um erro pontual, como Merkel, mas todo um comportamento negacionista e desrespeitoso, que é considerado por cientistas uma das razões para o Brasil ter se transformado no maior foco da pandemia no mundo e campeão de mortes.

Mas o que ele fez no pronunciamento de ontem, quando o Brasil registrou mais de 3 mil mortes em 24 horas? Mentiu. O presidente disse que sempre defendeu a vacina, e que o governo em nenhum momento deixou de tomar atitudes no combate à pandemia. Epa, todos sabem que o presidente fez pouco da gravidade da pandemia e criticou governadores que tomaram medidas drásticas, como lockdown.

Jair Bolsonaro poderia ter admitido que errou e pedido desculpas à população. Já pensou? Improvável. Afinal, pedir desculpa e assumir que errou não deve combinar com o estereótipo de machão que está sempre certo. Mas Bolsonaro, e não só ele, mas todos os líderes do mundo, têm muito o que aprender com Merkel: desculpas foram feitas para se pedir.