Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.
Saída de Rodolffo pode mostrar que racismo e homofobia não são mimimi
Todos os anos, pelo menos um participante do Big Brother Brasil parece ser escolhido pela produção do programa para representar a "heterossexualidade tóxica" dentro do BBB. Trata-se daquele clichê do cara forte que tem atitudes machistas e homofóbicas.
Esse personagem, infelizmente, representa uma grande parcela da população brasileira. Afinal, a produção do BBB é tudo, menos boba. Eles sabem, muito bem, que esse tipo de personagem dá audiência.
Um dos escolhidos como representante da heterossexualidade tóxica esse ano foi o cantor sertanejo Rodolffo, que tem uma grande chance de deixar a casa hoje, segundo enquete do UOL.
Além de cumprir todo o "cronograma" do "hétero tóxico", no último fim de semana Rodolffo conseguiu piorar: ele teve uma atitude racista na casa ao comparar o cabelo de João com o cabelo de um homem das cavernas. Ao ser confrontado por João, na noite de terça feira, o sertanejo disse que não teria feito nada demais. Nem o fato de João ter tido um ataque de choro por tocar em uma questão tão traumática abalou Rodolffo. Se alguém ainda tinha dúvidas de que ele tinha sido racista em seu comentário sobre o cabelo de João, a dúvida acabou ali.
Entre os fãs do programa, existe uma campanha para que o cantor seja eliminado com um número grande de rejeição, como uma espécie de recado contra o preconceito. Isso seria, sim, pedagógico, não só para o cantor. Mas, mais importante, para os telespectadores do programa. Afinal, é preciso deixar claro que esse tipo de atitude não deve ser recompensada.
No caso de Rodolffo, não dá para saber se ele vai entender que foi eliminado por causa de atitudes machistas, racistas e homofóbicas.
A colunista de Universa Angélica Morango, que também é ex BBB, lembrou que, em um vídeo que deixou gravado antes de entrar no programa, para ser mandado para fãs, ele explicou sua pretensa falta de homofobia da seguinte maneira: "Eu tenho a minha vida super bem resolvida com relação à minha heterossexualidade. Eu gosto demais de um monte de gays. Não tenho preconceito para estar junto, bater papo, dar risada. E, aliás, uma das criaturas que mais me faz dar risada é a criatura gay"
Rodolffo foi além do clichê "não sou homofóbico, até tenho amigo gay" (uma piada para designar justamente homofóbicos que não acham que são). Ele ainda disse que gay serve para dar risada. Claro, afinal (outro preconceito) todo gay é espalhafatoso, praticamente uma piada ambulante.
Isso fica ainda mais ridículo no BBB 21, onde os dois participantes abertamente homossexuais são intelectuais: Gilberto é doutorando em economia e João, professor de geografia. Caras assim só servem para rir junto, Rodolffo?
Mais de uma vez, no programa, ele disse que se incomodava com o jeito de Gilberto e disse frases do tipo: "ele tem aquela bobeirada dele, com dancinha, com gritinho". Ele fez piada também com o fato do cantor Fiuk gostar de usar vestido.
Falta de informação?
O sertanejo tem uma justificativa para esse tipo de atitude. Em conversa com a cantora Pocah, ele disse que, por ser do interior, tem menos informação."Você sai de lá (interior) vomitando machismo, racismo, homofobia", disse, afirmando que já tinha superado muitas coisas, ao contrário de amigos que moram no interior.
Rodolffo é um cantor de sucesso, milionário. No caso de "ter informação", ele devia ter buscado mais, não? Ou ele ainda quer que as pessoas que se sentem agredidas pelos seus preconceitos expliquem para ele o que pode e o que não pode?
Homens que sofrem de heterossexualidade tóxica muitas vezes costumam responder a quem reclama de racismo, homofobia e machismo, que isso é "mimimi".
No programa, Rodolffo chegou a usar a mesma explicação. Segundo ele, o mundo anda "cheio de mimimi para cima e para baixo. Não, Rodolffo, não é "mimimi". São preconceitos sérios e, no caso de racismo, é até crime. Se ele não entender, que o público, pelo menos, compreenda.