Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.
Alemães criam luva rosa para tirar absorvente. Só podia ser ideia de homem
Tirar absorvente é uma coisa simples que toda mulher aprende ainda adolescentes. A gente tira, envolve em papel higiênico e joga no lixo. Fim.
Mas dois homens alemães conseguiram complicar o processo que fazemos desde sempre. Os empreendedores Eugen Raimkulow e Andre Ritterswürden tiveram uma ideia "genial" (contém ironia). Eles lançaram a "Pinky Glove", uma luva cor-de-rosa especial para que a mulher tire o absorvente. Depois de usada, a luva vira um saquinho estilo aqueles que são usados para recolher cocô de cachorro.
Sim, na cabeça deles, menstruação deve ser algo tão nojento que deve ser descartado como cocô de cachorro. E mulheres precisam de luvas para encostar em suas vaginas durante a menstruação. Afinal, "vagina é uma coisa nojenta". Difícil imaginar como esses caras transam.
O produto foi apresentado por eles semana passada na versão alemã do Shark Tank, em um programa de televisão alemão onde criadores apresentam ideias para investidores. Eles conseguiram o apoio de mais de 180 mil reais.
Durante a apresentação, os dois disseram que "entendiam muito de mulher". Motivo: são casados e já dividiram apartamento com mulheres. Nossa, então essa convivência fez com que eles percebessem que fazíamos tudo errado? Realmente precisamos de homens para "solucionarem" os nossos problemas. Quer dizer, para inventar problemas que não temos. Tirar e jogar fora um absorvente, repito, é tão simples como lavar as mãos.
Depois da participação no programa, o produto viralizou e os dois passaram a ser criticados no mundo todo. Na última terça-feira (20), eles avisaram que as luvas, que já estavam à venda em grandes lojas, seriam tiradas do mercado.
Por que nos sentimos tão irritadas e chocadas com o fato de homens inventarem um produto desses?
Por várias razões. Uma delas é que, na página do produto no Instagram, as luvas são recomendadas por eles como solução contra o "mau cheiro" (!) e a "vergonha" que nós sentimos de jogar absorvente no lixo. "Moramos com mulheres e damos uma olhada no cesto, podemos sentir o cheiro e ver que aparece sangue algumas vezes", disseram. Ah, tá.
Explicando para esses (e outros homens): não precisamos ter vergonha nem do cheiro nem do sangue, afinal, menstruação é algo natural.
Bom, talvez não no mundo dos dois especialistas em menstruação feminina. Na página do produto no Instagram existem frases do tipo:
"No dia a dia, existem muitas situações em que mulheres não querem ter o constrangimento de descartar seus tampões" ou. "muitas mulheres não querem que ninguém veja seus tampões descartados". Sim, parece aquelas propagandas de revistas dos anos 50.
Explicando de novo para sabichões: nós não temos a mínima vergonha de jogar absorventes no lixo. E esse sentimento de constrangimento, que para a maioria de nós nem existe, não deve ser incentivado. Afinal, repito, é natural ficar menstruada.
E, claro, o fato de homens lançarem um produto que visa solucionar um problema que eles acham que temos, e ainda o lançarem com um monte de falsas certezas sobre nossas vergonhas mostram que a autoestima e arrogância masculinas não têm limites. Assim como o "mansplaining". Como eles podem achar que podem nos explicar o que fazer com nosso sangue menstrual?
Todo mundo já conheceu vários homens palestrinhas na vida. Esse é um comportamento comum e, pelo jeito, sem limites.
Ameaça de morte?
Depois das críticas, eles decidiram tirar o produto do mercado. E em comunicado no Instagram, pediram desculpas "para quem ficou chateado" (a desculpa padrão de quem não quer pensar a respeito de seus erros).
Em seguida, disseram que estavam recebendo uma onda de ódio, bullying e ameaças de morte na internet. Bem, o que eu vi foram piadas e revolta justificada.
Claro que ninguém deve ser ameaçado ou sofrer ataques de ódio na Internet (inclusive já passei por isso mais de uma vez, assim como muitas mulheres, já que somos as maiores vítimas desses ataques) mas li as críticas e não vi nada disso.
Mas é típico. Os palestrinhas de menstruação apenas seguem o padrão dos privilegiados que são criticados atualmente: pedir desculpa "se alguém se sentiu magoado" e falar que está sendo atacado (crítica não é ataque). Alguém duvida que o próximo passo deles vai ser reclamar do "cancelamento"?
Homens de todo o mundo, aprendam a lição. Arrogância e síndrome de sabichão tem que ter limite!