Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.
Primeira trans no BBB, Ariadna estará no "No Limite". Será sempre a única?
Há dez anos, a Globo fez algo " moderno" e inclusivo para a época: convidou uma mulher trans para fazer parte do BBB 11. A escolhida foi a esteticista Ariadna Arantes. E o que aconteceu após isso? Nada. Nenhum avanço. Apesar da simpatia da moça e de ela ter causado um enorme buchicho (tanto que lembramos de seu nome até hoje), Ariadna foi a primeira eliminada do programa.
E o que aconteceu de lá para cá? Também nada. Nenhuma trans voltou a participar do programa. Ariadna continuou sendo a primeira e a única.
Agora, a emissora tenta ser mais inclusiva novamente. A esteticista, que hoje mora na Europa e tem 36 anos, foi anunciada no fim de semana como uma das participantes da nova versão do "No Limite", que estreia em maio tendo no elenco ex-BBBs.
Para quem preza a diversidade, a notícia da participação de Ariadna é boa. Mas, espera aí, só 11 anos depois? E ainda a mesma pessoa? Ariadna vai ser para sempre a única pessoa trans a participar de realities da emissora?
A esteticista foi uma das primeiras a chamar atenção para esse disparate. Em entrevista a Universa em janeiro, ela disparou: "Sinto, sim, falta de representatividade não só no BBB mas em muitos outros programas e produções. Nós existimos, e eles precisam nos inserir. Não é só bater palminha no dia da visibilidade trans", disse.
Ela tem razão. A Globo, apesar de tentar ser mais inclusiva nos últimos anos — o BBB 21, por exemplo, é recordista em participação de negros, gays e bissexuais, mas se esqueceu das pessoas trans. Nos últimos anos, as pessoas trans quebraram vários tabus e começaram a ocupar posições de destaque na sociedade.
Há uma exceção, mas em outra atração global: a trans Diva Menner foi a primeira a participar do The Voice Brasil, em 2020, e foi até a semifinal do programa. Mas ali, o que falou mais alto foi seu talento musical. Ainda não vemos muitas mulheres trans apenas sendo elas mesmas em realities de convivência no Brasil.
No mundo dos realities, Caitlyn Jenner, uma das protagonistas de um dos principais programas do gênero no mundo, o "Keeping, Up With the Kardashians", revelou ser trans e anunciou sua transição diante de todo o mundo em 2015.
Por que a Globo é tão tímida quando o assunto é visibilidade trans e só escolhe um participante trans a cada dez anos (e ainda escolhe o mesmo) para participar de um reality? O preconceito contra trans, apesar dos avanços, ainda é enorme. E tem piorado nos últimos anos.
Ano passado, por exemplo, o vereador e ator Thammy Miranda (PL-SP) foi alvo de uma campanha de ódio e de boicotes por estrelar uma peça publicitária de Dia dos Pais para a Natura. Detalhe: a campanha teve tanta repercussão que a Natura lucrou com a polêmica. Sim, as empresas lucram quando são corajosas. Além, claro, de cumprir uma obrigação com a sociedade.
Bem que a volta de Ariadna poderia ser um sinal de que a maior emissora do Brasil vai ser mais inclusiva daqui para a frente e perder o medo de chocar a audiência? Difícil ser otimista. Como disse a própria Ariadna: "O Brasil não estava preparado para ver uma mulher trans no BBB. Melhorou um pouquinho, mas ainda não está".
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