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Nina Lemos

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Noivado falso de Pabllo Vittar: é certo chamar fake news de marketing?

Pabllo Vittar vestida de noiva: era tudo encenação para seu próximo trabalho - Reprodução/Instagram/João Ribeiro
Pabllo Vittar vestida de noiva: era tudo encenação para seu próximo trabalho Imagem: Reprodução/Instagram/João Ribeiro

Colunista de Universa

29/04/2021 04h00

Semana passada, a cantora Pabllo Vittar fez uma revelação durante sua participação no BBB 2021 que empolgou os fãs. Ela disse, exibindo um anel de brilhantes, que estaria noiva. Fãs começaram a tentar adivinhar quem seria o sortudo, onde seria a cerimônia. E, vamos combinar, o casamento de Pabllo Vittar, uma das cantoras LGBTQ+ mais famosas do Brasil, seria um acontecimento e tanto.

Alguns dias depois, ela alimentou mais ainda a nossa curiosidade e a torcida e postou uma foto romântica de mãos entrelaçadas com um suposto parceiro, onde exibia o tal anel de brilhantes. Pronto, o "noivado" estava criado. Só que Pabllo não está noiva e não tem planos de casar. A história sobre o casamento era uma fake news plantada pela própria cantora, para criar notícia sobre o lançamento de um clipe.

Na terça-feira, Pabllo postou uma série de fotos onde posa linda vestida de noiva e escreveu: "Dia 06/05 será um dia inesquecível. Mais informações no site da Vogue Brasil. Para a revista, ela esclareceu que o tal casamento seria o começo de uma" nova era" em sua carreira.

Ou seja, ela e sua equipe criaram uma fake news para causar um buzz nas redes e gerar notícias. Funcionou. O tal casamento saiu em vários veículos de notícia.

A "fake news" de si mesma não é uma técnica de divulgação usada só por Pabllo. Contrário. Ela está bem popular. Em março, a modelo Celina Locks, esposa de Ronaldo Fenômeno, deu a entender em um post de rede social que estava grávida. Dias depois, ela divulgou que na realidade estava "grávida" de um projeto. A novidade, no caso, era para lançar uma linha de produtos com o seu nome. Vários famosos caíram na "pegadinha" e deram parabéns para a modelo.

Em fevereiro, Anitta e a MC Rebecca simularam uma briga no Twitter. Era marketing para promover uma colaboração das duas.
Ou seja, no mundo do topa tudo por dinheiro, os boatos e as fofocas sobre eles mesmos viraram um negócio e estão na moda. Essa é uma nova "tendência de marketing". Poderia ser uma vingança divertida contra fofoqueiros. Mas, espera, estamos falando da vida pessoal dos envolvidos. Vale vender especulação sobre si mesmo? Jura?

E uma coisa que esses artistas talvez não pensem é, como disse o jornalista Danilo Saraiva, editor da revista "Quem", que essas notícias estão sendo criadas no país da fake news, onde as notícias falsas tiveram um papel importante na eleição do atual presidente.

O mais curioso é que algumas dessas notícias falsas usavam, justamente, o nome de Pabllo Vittar, uma grande vítima de fake news. Já espalharam que a cantora seria ministra da cultura, que sua foto passaria a circular em notas de 50 reais e por aí vai. E não, fake news não são engraçadas. Vidas de pessoas são destruídas por causa delas. Exemplo simples: alguém inventa que você é um bandido. Todos acreditam. Já pensou o inferno?

Claro que a fake news do noivado de Pabllo não destruiu a vida de ninguém. Mas, mesmo assim, artistas que fazem isso acabam alimentando a perigosa indústria de fake news. Sabe por quê? Bem, porque no meio de tanta notícia "fake", as pessoas passam a não saber mais distinguir o que é real e o que não é. Nós, jornalistas, lutamos contra isso todos os dias.

No caso de Pabllo inventar um casamento, existe outro detalhe complicado. Poxa, o casamento LGBTQ+ é uma pauta importante demais. Pabllo representa tantas pessoas... Seu casamento, se um dia acontecer, vai ser uma esperança e um espelho para muitos Brasil afora.

E, sinceramente, uma artista carismática como Pabllo não precisa disso. Nem Anitta e muitos outros que usam da "técnica". No caso das marcas: será que vale engajamento e números de audiência a todo custo? Não, certo?