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Nina Lemos

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Ex de Bill Gates? Melinda Gates é muito mais que isso

Melinda Gates - Reprodução/Twitter
Melinda Gates Imagem: Reprodução/Twitter

Colunista de Universa

18/05/2021 04h00

Apesar de ser uma das mulheres mais poderosas do mundo, a bilionária Melinda Gates, de 56 anos, até duas semanas atrás ainda era conhecida como "a esposa do Bill Gates". Ela era mais lembrada como a boa mãe, a que cuidava da família, do que pelo seu trabalho na fundação que leva seu nome e do marido, a Bill and Melinda Gates Foundation. Enquanto isso, o marido brilhava e era considerado um dos maiores gênios do mundo. Melinda era a grande mulher que estava atrás do grande homem, como diz aquele ditado antigo e machista.

O casal anunciou o divórcio há duas semanas. Entre as razões, segundo a imprensa americana, está a amizade entre Bill e Jeffrey Epstein, que manteve por anos uma rede de pedofilia e literalmente destruiu a vida de centenas de mulheres. Melinda teria decidido acabar com o casamento depois que detalhes sobre a proximidade do marido e Epstein foram divulgados em 2018.

Na segunda-feira, foi divulgado também que Bill Gates tinha posturas inadequadas com mulheres na Microsoft e na fundação que leva seu nome. Basicamente, empregados afirmam que ele flertava com funcionárias.

Essas duas coisas (ser amigo de um pedófilo e paquerar subordinadas) já seriam motivo suficiente para qualquer mulher acabar com um casamento. E deve ter sido ainda mais revoltante e inaceitável para quem dedica boa parte do seu tempo e dinheiro tentando melhorar as relações de trabalho e condições das mulheres do mundo.

E esse é exatamente o caso de Melinda Gates.

Entre suas ações, em 2015 ela criou uma empresa incubadora de projetos e investidora, a Pivotal Ventures. O objetivo da empresa é patrocinar e incentivar projetos de mulheres ao redor do mundo. A empresa é focada em colocar mais mulheres no mercado de trabalho em posições chave, como, por exemplo, um meio que Melinda conhece bem, a tecnologia.

"Os dados não deixam dúvida. Não importa em que lugar do mundo você nasceu. Sua vida vai ser mais difícil se você for uma menina", disse ela em um artigo publicado na CNN, em 2020. Melinda também tem projetos que lutam por outros assuntos fundamentais para que mulheres se mantenham no mercado de trabalho, como o direito à licença maternidade (e paternidade) nos Estados Unidos.

Saúde mental

Durante a pandemia, além de doar milhões para fundos de pesquisa de vacina e de distribuição para países mais pobres (e não, seu ex não colocou chip nas vacinas, como dizem os malucos das conspirações), ela voltou seus esforços para a saúde mental.

Em abril de 2020, ela ajudou a lançar a campanha "Sound it Out", para promover a saúde mental entre estudantes do ensino médio dos Estados Unidos. Em outubro do mesmo ano, lançou um fundo para saúde mental de adolescentes, focado em distribuir fundos para adolescentes negros, latinos e LGBTQI+ nos Estados Unidos.

Não deve ser fácil fazer tudo isso e ainda ser conhecida como "a mulher do Bill Gates". Mas, pelo jeito, foi até essa "experiência" que fez com que ela decidisse trabalhar mais com direitos das mulheres e meninas.

Em seu livro, "O Momento de Voar, como o Empoderamento Feminino Muda o Mundo", lançado em 2019, ela explicou: "Era difícil ser ouvida quando eu falava depois do Bill". Ela disse também que teve muita dificuldade em encontrar sua voz, justamente por ser casada com um homem tão poderoso. Sim, ser mulher não é fácil, mesmo se você for uma das mulheres mais ricas do mundo. Mas os próximos passos de Melinda Gates devem deixar ainda mais claro que ela não era apenas uma "grande mulher atrás de um bilionário". Talvez fosse até o contrário...