Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.
Morte de MC Kevin: quando a masculinidade tóxica mata os meninos
É terrível que alguém morra jovem e repentinamente. Por isso, estamos todos chocados com a morte do MC Kevin, que não sobreviveu a uma queda do quinto andar em um hotel do Rio de Janeiro, no domingo. Ele só tinha 23 anos. Vários detalhes sobre o acidente apareceram nos últimos dias e acompanhamos todos buscando uma explicação.
Segundo as últimas informações, Kevin teria caído depois de se pendurar na janela de um quarto de hotel, onde ele e um amigo estariam transando com uma garota de programa. Eles teriam consumido drogas e álcool. Ele teria ido curtir com os "manos", que passaram a tarde "zoando" em um quiosque da orla, depois de uma briga do cantor com a esposa, a advogada Deolane Bezerra.
Os detalhes sobre as atividades sexuais do grupo não fazem diferença. O que parece certo: Kevin sofreu um acidente causado por álcool, drogas e farra. Um daqueles encontros de clube do bolinha regados a masculinidade tóxica, quando, em geral, os rapazes se mostram homens e corajosos e, para isso, inclusive, cometem irresponsabilidades. Quem nunca viu algo do tipo quase acontecer com garotos jovens? Ou mesmo com quem já nem tem idade para ser chamado de menino?
No velório de Kevin, Deolane fez um discurso emocionado e indignado. "Aqui é a amizade, é isso o que a amizade faz", afirmou, apontando para o corpo de Kevin. Segundo ela, os dois estavam juntos, até ele ser chamado por falsos amigos para "curtir".
O que aconteceu é lamentável e a advogada estava desesperada depois de uma tragédia. Ela disse também para os meninos tomarem cuidado. "Depois disso, quem acordou não vai acordar mais", disse, se referindo ao acidente.
Não é o caso de culpar Kevin ou seus amigos pela tragédia. Mas esse comportamento masculino irresponsável e de zoeira é, sim, perigoso. E mata.
Segundo pesquisa do IBGE, de 2017, homens entre 20 e 24 anos têm 11 vezes mais risco de morrer do que as mulheres da mesma idade. As causas são as mortes violentas, que incluem homicídios, suicídios e acidentes de trânsito. Essa é a época em que a diferença de mortalidade é maior para os homens. Brigar e se expor ao perigo fazendo coisas como dirigir bêbado ou correr de moto crescem essas trágicas estatísticas.
Segundo um relatório da Organização Pan-Americana de Saúde, a masculinidade tóxica reduz em até seis anos a expectativa de vida dos homens nas Américas. Sim, a masculinidade tóxica mata e fere não só as mulheres, mas os homens. E isso é mais um motivo para combatê-la.
