Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.
Morte de Kathlen: família sofre ataques e governantes "pró vida" silenciam
Na tarde de ontem, o namorado de Kathlen de Oliveira Romeu, Marcelo Ramos, fez um apelo no Instagram. Chorando, ele pediu que as pessoas parassem de atacar a família da namorada. Segundo ele, os ataques estariam abalando ainda mais a mãe da jovem, Jaqueline de Oliveira Lopes.
Sim, é inacreditável e revoltante, mas um dia depois de Kathlen, uma menina trabalhadora, cheia de vida, grávida do primeiro filho, morrer assassinada com um tiro, tinha gente atacando a família da jovem.
Kathlen era filha única e super apegada à mãe. Dá para imaginar como a mãe dela se sente? E dá para acreditar que tenha gente que, em uma hora dessas, vá atacar uma mãe que acabou de perder a filha, um namorado que perdeu a mulher grávida e o filho que ela esperava?
Também na tarde de ontem, amigos e moradores do Complexo do Lins, na Zona Norte do Rio, onde Kathlen morreu, organizaram uma passeata pedindo justiça, o fim do racismo e da violência nas comunidades. De acordo com o comunicador Rene Silva, um dos fundadores do Voz das Comunidades, pessoas passaram gritando agressivamente contra os participantes.
Sim, é chocante. Mas para algumas pessoas, a indignação causada por essa tragédia (uma grávida, negra, jovem, morta) parece ser algo ofensivo. "Vocês estão querendo criar a nova Marielle", comentou um leitor em um perfil de Kathlen publicado aqui em Universa. Não, o que queremos é que mais mulheres negras, mães, filhas e irmãs como elas não morram!
Em outro texto, sobre racismo, muitos comentários falavam que era hora de "parar de mimimi".
Sim, tem quem chame a constatação de que Kathlen foi morta pelo racismo (negros são oito em cada dez mortos pela polícia no Brasil) de "mimimi". E a indignação por sua morte de "drama".
Os que reclamam de "mimimi" (trata-se da morte de uma jovem!) são os mesmos que dizem respeitar a família e as crianças. Mas, espera, uma família foi despedaçada. E uma mulher grávida morreu. Se revoltar com isso não é lutar pelo direito à vida? E a família de Kathen, não merece ser defendida?
Pelo jeito não. Até a publicação deste texto, o Governo Federal e os maiores expoentes da corrente "pró vida" (movimento conservador contra o aborto) não tinham se manifestado. A Ministra da Mulher e dos Direitos Humanos Damares Alves, a mesma que tentou impedir que uma menina de 10 anos, vítima de um estupro, fizesse um aborto, estava em silêncio.
Defender a vida de Kathlen e seu bebê não importa? Pelo jeito, para muitos, não.