Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.
Mulheres agredidas por exigir máscara são exemplo de masculinidade tóxica
Na última terça-feira (15), uma caixa de supermercado foi morta a tiros nos Estados Unidos depois de avisar para um cliente que ele tinha que usar máscara. O crime aconteceu na Geórgia. Segundo testemunhas, o assassino, Victor Tucker, de 35 anos, discutiu com a mulher, foi embora e voltou armado. Além de atirar na vítima, que morreu na hora, ele feriu um policial.
Na sexta-feira passada (11) foi a vez de um crime do mesmo tipo acontecer em Palmares, no interior de São Paulo. Adriana Araújo da Silva, de 45 anos, foi espancada e teve um braço quebrado por um cliente da padaria onde trabalha. Segundo ela, o sujeito chegou com a máscara no queixo. E, depois de alertado de que precisava usá-la corretamente, deu uma rasteira em Adriana e um pontapé no braço. Ela fugiu e foi perseguida pelo homem, que então a agrediu com uma joelhada no rosto. Adriana teve vários ferimentos e teve que passar por uma cirurgia. O agressor prestou depoimento, mas foi liberado, e pode estar por aí, com a máscara no queixo, pronto para agredir outras pessoas.
Não é coincidência que as vítimas desses dois crimes sejam mulheres. São elas as vítimas preferidas desse tipo de "valentão covarde". Além de sermos mais vulneráveis, esse tipo de homem em geral acha absurdo e intolerável receber uma ordem de mulher. "Como assim uma mulher pode me dizer o que eu tenho que fazer?", devem pensar.
E sim, quem mais se recusa a usar máscara são os homens (não todos, claro, e também não só eles). Mas uma pesquisa feita pela Universidade Middlesex em Londres, no Reino Unido, e o Instituto de Pesquisa em Ciências Matemáticas de Berkeley, nos Estados Unidos, concluiu que os homens negam mais o uso de máscaras. Motivo: a masculinidade tóxica. Sim, muitos pensam: "sou macho, não preciso disso". "Tenho histórico de atleta, se eu pegar vai ser só uma gripezinha."
Mas como uma pessoa pode, além de se recusar a usar a máscara, agredir pessoas por causa disso?
Um estudo realizado no fim do ano passado pela Universidade Estadual de Londrina dá algumas pistas. Os pesquisadores, que entrevistaram pessoas sobre o cumprimento das medidas de proteção durante a pandemia, concluíram que muitos daqueles que se recusam a usar máscara e adotar regras de distância social têm traços de sociopatia. Pessoas com esse distúrbio, também chamado de Personalidade Anti Social, apresentam desprezo pelos outros e pelas regras. Muitos são impulsivos e apresentam comportamento agressivo.
Ou seja, eles podem de fato ser perigosos.
Não são todas as pessoas que se recusam a usar máscara que podem partir para a agressão física. Mas, mesmo assim, dá medo. Outro dia eu estava no metrô e todas as pessoas estavam com máscara, menos um homem, que olhava com cara de arrogante para quem o encarava. Pensei em reclamar. Não tive coragem.
Em abril, a colega jornalista e escritora Rosana Hermann narrou no Twitter uma tentativa de agressão que sofreu. Ela andava em seu bairro, Higienópolis, em São Paulo, quando alertou um casal que andava sem máscara na rua. "Hoje, tranquilona, voltando para casa, apenas perguntei, "e a máscara?" Ele fez sinal de que não estava escutando e eu repeti. A moça virou rindo e ele veio para cima de mim para me bater", contou no Twitter. Rosana, ainda bem, foi socorrida por motoristas de táxi que viram a cena.
Sim, só faltava essa, além de todos os tipos de assédios que sofremos cotidianamente, ainda temos que temer (além do vírus) sofrer agressões se avisarmos sobre a obrigatoriedade da máscara. No caso de algumas mulheres, como a caixa de supermercado que foi morta e a balconista que foi espancada e teve o braço quebrado, isso é, inclusive, uma obrigação profissional. Os chefes precisam prover proteção e apoio para essas mulheres.
Sim, aquele sujeito que anda por aí tranquilão com a máscara no queixo, além de ridículo, pode ser perigoso. E covarde.