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Nina Lemos

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Com pandemia, Venturini não pode viajar nem com logo da Pfizer na testa

Fernanda Venturini "escolhe" vacina em posto - Foto: Reprodução / Instagram
Fernanda Venturini "escolhe" vacina em posto Imagem: Foto: Reprodução / Instagram

Colunista de Universa

29/06/2021 04h00

"Eu sou contra a vacina, mas como eu quero viajar o mundo eu vou tomar." Se você viu o vídeo onde a jogadora de vôlei Fernanda Venturini fala isso, também deve ter sentido raiva. Com sorriso de deboche, ela ainda diz que "ia tomar Pfizer'', que era a "menos pior". Depois da repercussão negativa do vídeo, Fernanda disse que não foi isso que ela queria dizer - mas, bem, foi isso o que ela disse sim. Ainda não estamos tendo alucinações sonoras.

O comportamento da ex-jogadora de vôlei tem muitos aspectos perigosos, como negar eficácia da vacina e alimentar a maluquice dos sommeliers de vacina, aqueles que só aceitam Pfizer. Mas mostra também um comportamento que, infelizmente, não é só dela. Existe uma corrida desesperada pela vacina com o objetivo de "voltar a viajar". Não importa que 2 mil pessoas morram por dia. O que interessa mesmo é poder ir de novo para Miami sem quarentena no México. Ou poder ir para a Europa de boa.

Esse comportamento, além de egoísta (tem gente, a maioria, que quer tomar a vacina para correr menos risco de morrer e deixar os filhos órfãos) não faz sentido. Inclusive porque não é um certificado de vacina que vai permitir que um brasileiro volte a ser aceito em muitos lugares do mundo.

Por enquanto, brasileiros continuam barrados (com ou sem vacina) na maioria dos países da Europa e nos Estados Unidos, os destinos mais procurados pelos turistas. Para viajar do Brasil para esses países você precisa ser cidadão ou ter visto de residência no país. Não faz diferença se você está vacinado ou não. E, claro, não adianta ser vacinado com Pfizer, nem ter o logo Pfizer tatuado na testa.

Para que viajantes vindos do Brasil voltem a ser aceitos em muitos países, a epidemia tem que estar minimamente sob controle. Isso significa menos casos por dia e menos mortes. Com muitos casos, o vírus sofre mutações.

O cientista Miguel Nicolelis já disse que, sem controle, o Brasil poderia virar um celeiro de mutações. Enquanto essa for a realidade, esquece suas viagens internacionais, Fernanda.

Ou seja, mesmo quem não está preocupado em controlar a pandemia para que a população corra menos risco de morrer precisa ajudar nesse controle. Senão, não vai ter viagem.

Os especialistas também vivem repetindo que vacina é, sim, uma arma importantíssima no combate à pandemia. Mas não é a única. Mesmo vacinadas, as pessoas vão ter que usar máscara, fazer distanciamento social e evitar aglomerações por um bom tempo. Inclusive, as preocupações crescem no mundo todo com a variante delta.

Em Israel, por exemplo, mais de 60% da população já recebeu as duas doses de vacina. Mas os números voltaram a crescer por conta da variante Delta. Resultado: as máscaras voltaram a ser obrigatórias. E o país não aceita viajantes do Brasil ainda e nem deve estar pensando nessa possibilidade.

Ou seja, se você, como Fernanda, não acredita em vacina mas "quer viajar", devia também seguir o que os cientistas falam e não aglomerar e não sair por aí como se tudo estivesse bem. Se mais de 500 mil mortes não te convencerem, vai que a vontade de voltar a viajar para o exterior convence?