Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.
No julgamento da conduta sexual feminina, nem Damares e Juliette escapam
O que a ministra Damares Alves, a defensora dos "valores da família e dos bons costumes" e Juliette, a moça livre que virou ídola do Brasil tem em comum? As duas acordaram nesta sexta-feira (2) sendo vítimas de uma das formas mais cruéis de machismo. Ambas estão tendo suas vidas íntimas expostas e usadas contra elas.
Damares (ela mesma, a que prega que a mulher deve seguir o marido etc) está sendo acusada de ter tido um caso com um homem casado. Juliette está sendo exposta por um ex ficante, o influencer Alê Oliveira que resolveu contar "vantagem" e espalhar detalhes sobre uma transa deles. Um nojo.
No caso de Juliette, por mais grotesco que seja um sujeito expor nossa vida íntima (ele pode estar mentindo ou não, pouca diferença faz, o crime de exposição é o mesmo) ela provavelmente vai ficar mal, sentir raiva, processar, superar. Isso porque ela é livre, independente e deve saber muito bem que o que a gente faz ou não na cama não é problema de ninguém. E que uma mulher ser livre sexualmente não é errado, como tanto fazem parecer.
Já em se tratando de Damares a situação é bem mais complicada. De defensora da família, a ministra passou, em seu ciclo de fanáticos defensores dos "meninos de azul e das meninas de rosa", a uma destruidora de lares, um dos mitos que nos perseguem faz tempo. Alguém conhece algum homem que seja chamado de destruidor de lares? Nem eu.
O suposto caso de Damares foi divulgado pelo blogueiro de extrema-direita Oswaldo Eustáquio, que enviou a "denúncia" para 30 pessoas, inclusive pastores. Segundo a revista "Veja" o tal dossiê contém detalhes estilo dramalhão conservador. Um dos trechos divulgados poderia até ter sido escrito por Damares (se a protagonista da história fosse outra pessoa): "Um jovem de 27 anos mostrava profunda tristeza porque sua mãe estava sendo traída pelo pai por sete anos. E essa situação machucava toda a família... essa mulher era a ministra Damares Alves".
Há quem diga que Damares pode até perder o ministério por causa do suposto affair. Uma mulher correr o risco de perder o cargo de ministra por ter tido um caso com um homem casado (alô, Damares é solteira e já afirmou que não sabia que o homem em questão era casado!) seria um escândalo se não se tratasse de uma mulher que trata o ministério dos Direitos Humanos e da Mulher como uma seita.
Na seita encabeçada por Damares e outros, jovens precisam fazer abstinência sexual (uma das pautas prediletas de Damares), gays devem ficar longe das "famílias" e meninas de 12 anos vítimas de estupro devem ser obrigadas a ter o filho (apesar do aborto, nesse caso, ser garantido por lei). Pode uma das líderes dessa seita ter tido um caso com um homem casado? Não tenho certeza porque não sou membro da seita. Mas, nesse caso, a expulsão até pode fazer sentido...
Damares Alves poderia entender agora o que mulheres como Juliette já sabem faz tempo: em vez de alimentar o machismo, a gente tem que saber que nenhuma de nós está imune a ele. E que essas injustiças, tipo uma mulher solteira ser chamada de "destruidora de lares" precisam ser combatidas. Nesse caso, não dá para esperar que ela vá aprender. Mas fica a dica, Ministra.