DJ Ivis ganhar fãs em rede social diz muito do que é ser mulher no Brasil

Os vídeos que circulam na internet são chocantes e causam arrepios. Neles, um homem espanca violentamente uma mulher, que, em alguns momentos, carrega uma bebê no colo. As cenas são fortes e foram capturadas por câmeras de segurança instaladas na casa do casal. O agressor é Iverson de Souza Araújo, conhecido como DJ Ivis, um popular artista da nova geração forrozeiros — ídolos que arrastam multidões pelo país. A agredida, sua ex mulher, Pamella Gomes de Holanda, denunciou as agressões no último domingo (11) em suas redes sociais.

Só o fato de vermos uma mulher sendo agredida dessa maneira já tornam o dia indigesto. Mas piora. Depois da denúncia da mulher e da exposição dos vídeos, o DJ resolveu usar seu Instagram para se defender. Com cara de deboche e um choro encenado, ele basicamente, coloca a culpa na mulher que deu chutes, socos, puxões de cabelo. Em frente à própria filha, uma bebê.

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Em uma série de stories, Ivis disse que: "As pessoas estão comentando o que não sabem. Sabe o que é alguém chegar para você e falar que vai se matar? Ela jogou minha filha no meu rosto. Você tem noção do que é isso?"

Não, Ivis, nesse caso, a gente não precisa saber do que aconteceu antes. Nada justifica agressão em mulher. Nada. Os vídeos são claríssimos. O que aconteceu antes da agressão não importa.

Outra parte bizarra da tentativa de Ivis de justificar a violência foi expor um print com anotações da ex, onde ela faz planos para 2020. Entre eles, está "namorar o Ivis" e "ter um bebê do Ivis".

O cara sublinhou essa parte, como se o fato de a moça ter planejado namorá-lo fosse justificativa e parte de um plano malévolo para conquistá-lo. O que ele quer dizer, que foi "vítima de um golpe do baú"? É isso mesmo?

A estratégia usada por agressores de se fazerem de vítimas de mulheres 'desequilibradas' — como se agressores fossem pessoas equilibradas — é comum. E, pelo jeito, funciona. Desde que a agressão foi exposta, o DJ ganhou mais de 200 mil seguidores no Instagram

Enquanto eu escrevia esse texto, ele estava perto de alcançar a marca de um milhão.

Seguidores, como todo mundo sabe, hoje em dia valem não só como prestígio, mas geram dinheiro, o que significa que seus negócios estão crescendo. DJ Ivis está sendo recompensado pelo seu crime. E, não duvido, ele ainda pode estrelar um reality show, e até ganhar.

Dado Dolabella foi campeão da Fazenda em 2019, depois de ser acusado de agressão por Luana Piovani. E, mais recentemente, o cantor Biel, acusado de violência doméstica, participou do mesmo programa, onde ficou em segundo lugar

Quem são essas pessoas, que em um momento desses, depois de ver com os próprios olhos que ele é um agressor, passam a segui-lo? Muitos, provavelmente, fazem isso por curiosidade. Como se acompanhar um agressor tentando culpabilizar a mulher fosse "entretenimento". Outros, acham que ele, de alguma maneira, está certo. 'Que ele perdeu o controle, coitado'. E, entre eles, há também mulheres, infelizmente

Não é raro ouvir, quando acontece um caso de agressão, um homem dizendo "mas ela também me bateu". E, sim, eu já ouvi esse mesmo argumento de vítimas. "A gente estava brigando, eu bati nele também". Vamos lá, explicar de novo: a força física entre homens e mulheres é desproporcional, como pode ser visto até no vídeo da agressão de Ivis. Ela não consegue se defender dele, ela apanha.

A maneira que mulheres têm para se defender são essas: denunciar. Pamella registrou um boletim de ocorrência no dia 3 de julho. E, no caso, da justiça não ser feita rapidamente, botar a boca no trombone, como Pamela faz. Inclusive porque, pelo jeito, a vida de Ivis andava ótima, como se nada tivesse acontecido.

Antes de gravar sua "justificativa" no Instagram, ele comemorava na rede o fato de sua nova música fazer sucesso no Spotify, conversava com fãs, brindava em uma praia e ainda dizia a frase: "viva la vida". Sim, depois de agredirem mulheres, agressores ainda pensam que podem celebrar por aí. Será que é por que eles imaginam que nada vai acontecer mesmo e que eles ainda podem alguma popularidade? Deve ser...

Como denunciar a violência doméstica

Em flagrantes de violência doméstica, ou seja, quando alguém está presenciando esse tipo de agressão, a Polícia Militar deve ser acionada pelo telefone 190.

O Ligue 180 é o canal criado para mulheres que estão passando por situações de violência. A Central de Atendimento à Mulher funciona em todo o país e também no exterior, 24 horas por dia. A ligação é gratuita. O Ligue 180 recebe denúncias, dá orientação de especialistas e encaminhamento para serviços de proteção e auxílio psicológico. Também é possível acionar esse serviço pelo Whatsapp. Neste caso, o telefone é (61) 99656-5008.

Os crimes de violência doméstica podem ser registrados em qualquer delegacia, caso não haja uma Delegacia da Mulher próxima à vítima. Em casos de risco à vida da mulher ou de seus familiares, uma medida protetiva pode ser solicitada pelo delegado de polícia, no momento do registro de ocorrência, ou diretamente à Justiça pela vítima ou sua advogada.

A vítima também pode buscar apoio nos núcleos de Atendimento à Mulher nas Defensorias Públicas, Centros de Referência em Assistência Social, Centros de Referência de Assistência em Saúde ou nas Casas da Mulher Brasileira. A unidade mais próxima da vítima pode ser localizada no site do governo de cada estado.