Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.
Por que homem famoso nunca ganha fama de antipático e Paula Fernandes, sim?
"Fulana é uma antipática, supermetida." Quantas vezes você já ouviu frases desse tipo sendo usadas para se referir a mulheres? Aposto que muitas.
E, se você prestar atenção, vai perceber que esses rótulos não se aplicam muito aos homens. Nunca vi um homem ter que explicar, por exemplo, que sua fama de antipático ou metido não era verdadeira. Já no caso das mulheres? Isso acontece o tempo todo. Nesta semana foi a vez da cantora Paula Fernandes explicar, em entrevista ao "E aí, Beleza?", de Universa, que a fama de antipática que carrega não é verídica. Ela contou que essa fama surgiu no trabalho. Paula é cantora de música sertaneja, um ambiente muito masculino e ela era séria em seu trabalho. Não entrava em brincadeiras.
"Essa era a minha postura de chegar em um ambiente, eu estava ali para fazer o meu trabalho. Não estava ali para tomar cachaça com o contratante, não estava ali pra poder ficar de 'trelelê' com ninguém. Isso foi mal visto muitas vezes", disse, em outra entrevista para o UOL.
Isso não acontece só com ela. Além de termos que provar que somos sérias no trabalho e em outras obrigações do dia a dia, esperam que a gente faça isso sorrindo. Senão, vamos ser consideradas metidas. É mole?
A sociedade, pelo menos no Brasil, parece esperar que mulheres sejam sempre risonhas e bem-humoradas. Inclusive quando elas são agredidas. Um exemplo que já vi acontecer muitas vezes e que para mulheres brasileiras é quase rotineiro. Você leva uma cantada na rua, daquelas que beiram o assédio e responde fazendo uma cara feia. O que escuta? "Nossa, como você é metida!"
Sim, é absurdo! Mas isso acontece. Se dizemos não e colocamos limite nas pessoas e nas situações, levamos fama de chatas. Chato é ficar cantando mulher na rua, não?
Outro exemplo: a atriz Carolina Dieckmann também teve que explicar sua fama de antipática, em outra entrevista de Universa. Segundo ela, esse rótulo "pegou" depois que ela se recusou a participar de uma "brincadeira" do programa "Pânico". Era a época do quadro "Sandálias da Humildade", que obrigava um famoso com fama de esnobe a calçá-la, de forma não combinada. Eles chamavam de brincadeira, mas a verdade é que os artistas eram perseguidos pelo programa em lugares públicos diante de câmeras.
Carolina não achou graça e disse não. Resultado: metida, antipática, insuportável.
"Eu sei que não sou antipática. Dar um limite pra uma brincadeira que eu não quero que façam comigo não é ser antipática. É ser dona de mim. É saber o que eu não gosto e dizer isso. Eu tenho direito. A antipatia, o azedo, o mau humor foi o que as pessoas interpretaram da minha atitude. Mas eu não me vejo assim", disse.
Ela está coberta de razão. E não esperem que a gente vá parar de dar limite ou de falar não. Com fama de antipática ou não, melhor a gente ser dona de si. Mas que é chato ter que se explicar só por não sorrir o tempo todo, isso é.