Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.
"Medo que minha prima vire 'esposa' de soldado do Taleban", diz afegão
Em 2015, mais de um milhão de refugiados entraram na Alemanha, onde moro. A maioria deles vinha da Síria. O segundo maior número (20%) veio do Afeganistão. Meu amigo Ali (nome fictício), de 22 anos, era um desses refugiados. Depois que seus pais mudaram para o Irã fugindo de perseguições políticas, ele decidiu vir para a Alemanha em busca de um futuro melhor. Ele tinha 14 anos. Veio andando, junto com seu irmão de 12.
Sábado, dia 14, quando o Taleban tomou conta do país, ele veio jantar na minha casa, aqui em Berlim, algo que já estava marcado. Ele chegou atrasado e, antes que a gente olhasse as notícias e soubesse o que acontecia no Afeganistão, anunciou: "minha cidade foi invadida pelo Taleban". Ele falava de Mazar-i-Sharif, um dos principais centros comerciais do Afeganistão.
Apesar de seus irmãos e pais não morarem lá, toda sua família estendida e amigos estão em Mazar-i-Sharif. Sua preocupação maior era com suas primas. Na madrugada de sábado para domingo, enquanto conversava com a gente, olhava para suas mensagens de Whatsapp. Depois de ouvir uma voz feminina trêmula disse. "Era a minha prima, está com medo. E o pior é que essa minha prima é linda. Medo que minha prima vire 'esposa' de soldado do Taleban", diz.
Demorei alguns minutos para fazer a conexão com o fato de ela ser muito bonita e correr perigo. Mas na verdade a ligação é óbvia. Com a entrada do Taleban, meninas e mulheres correm o risco de serem estupradas e sequestradas e forçadas a se tornar 'esposa' dos seus 'soldados'
Segundo uma jornalista afegã disse em reportagem publicada no jornal "The Guardian", à medida que o Talibã avançava (há meses eles ocupam cidades), meninas e mulheres eram estupradas e sequestradas para virarem escravas.
Mesmo as mulheres que conseguem escapar do pior terão suas vidas totalmente transformadas. Na época em que o Taleban estava no poder no país, entre 1996 e 2001, mulheres não podiam estudar e só podiam deixar suas casas totalmente cobertas e acompanhadas por homens. Também não podiam trabalhar. As que desobedeciam podiam ser executadas em público.
O horror já começou. Uma estudante afegã em Cabul relatou para o jornal "The Guardian" que no domingo as mulheres largaram seus trabalhos e estudos sem esperança de poder voltar. Tiveram que literalmente queimar seus diplomas e qualquer sinal de que eram "independentes". Estão trancadas em casa temendo o pior.
Segundo ativistas, as mulheres são as pessoas mais vulneráveis e em risco no Afeganistão. Infelizmente, meu amigo está certo por temer pela vida de suas primas no Afeganistão.
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