Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.
Baile do Met prova que 'realeza' da moda segue desconectada da realidade
Quando a pandemia começou, em março do ano passado, muita gente disse que as coisas iriam melhorar. O mundo iria se transformar e o consumo seria mais consciente. No início, o cancelamento de alguns dos eventos mais tradicionais do mundo da moda e do entretenimento até nos deram esperanças de que, quando voltassem, esses eventos fossem repensados de maneira que fizessem mais sentido nos tempos atuais.
Um deles foi o baile do Met, uma espécie de baile de debutantes de celebridades que acontece todos os anos em Nova York e desperta atenção do mundo todo. Mas os organizadores do evento, que acontece nesta segunda-feira (13), pelo jeito, não aproveitaram a pausa de um ano e meio (a edição de abril de 2020 foi cancelada por causa do coronavírus) para pensar em novos formatos que se adequassem aos tempos atuais.
O Baile do Met é considerado um grande evento de moda. E sim, até é. Mas a verdade é que trata-se de um baile exclusivo, como aqueles de antigamente, onde só a corte é convidada e nós, plebeus, admiramos.
A dona do baile é Anna Wintour, aquela do filme "O Diabo Veste Prada", a mesma que, no comando da revista Vogue, ajudou a criar o padrão de beleza super magro, branco e jovem.
Como evento de moda, a edição desse ano poderia ter dialogado com o mundo e a sociedade, refletido sobre a morte, a transformação, a dor... Tema não falta. Mas não, o tema do tapete vermelho esse ano é, acredite, "Independência Americana".
Cadê a pandemia?
Para piorar, o baile voltou fingindo que nada aconteceu. No inicio do evento hoje, as celebridades usavam vestidos luxuosos e ignoravam o uso de máscara. Tudo bem, o uso do artefato pode não ser mais obrigatório ao ar livre em Nova York. Mas, ei, celebridades mundiais, custava dar o exemplo?
Segundo informações dos organizadores, a máscara será obrigatória do lado de dentro e só quem estiver duplamente vacinado pode participar (isso não é exatamente uma ideia dos organizadores e sim uma lei de Nova York no momento, onde só vacinados podem frequentar eventos em locais fechados).
Como em um conto de fadas realizado em uma terra do faz de conta, famosos se reuniram exalando luxo e roupas maravilhosas. É até legal ver as roupas e os famosos, e precisamos mesmo de escapismo. Mas tal conexão da realidade faz sentido em 2021?
Faz sentido que famosos se reúnam em Nova York, em plena pandemia (porque não, não acabou) para fazer uma batalha de looks?
Vamos conversar com a realidade, mundo da moda?
Como disse uma amiga, eles podiam pelo menos fingir que se importam com um mundo que foi atingido por um vírus mortal. Só nos Estados Unidos, mais de 660 mil pessoas morreram de Coronavírus. Em alguns estados, como a Flórida, os hospitais continuam lotados.
Além disso, a pandemia colocou o mundo em recessão. Ativistas climáticos nos avisam que precisamos mudar os nossos hábitos urgentemente, senão, o mundo passará por mais e mais desastres. Precisamos, sim, ser mais sustentáveis. Isso é urgente.
Nesse contexto, faz sentido um baile de gala? Não fica a impressão de que os convidados bailam no Titanic?
Os bailes de corte combinam com esse mundo de hoje? Ainda mais com Anna Wintour, a representação dos corpos magro e padrão como rainha?
Repito: precisamos, sim, de escapismo. Mas os ricos, famosos e ícones do mundo da moda deveriam repensar essa ostentação de luxo. O tal "novo normal" poderia ser mais novo.
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