Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.
'Meu pix': pobreza invade até o mundo perfeito do Instagram. Como ajudar?
O Instagram sempre foi conhecido por ser a rede social da vida perfeita. Ali as pessoas postam seus treinos, suas marmitas fit e suas rotinas sempre com um bom ângulo. Há muita ostentação, roupas de grife, jatinhos e também problemas de gente branca. Nós, privilegiadas, usamos a rede para compartilhar fotos de nossa volta à vida social agora que a pandemia deu uma melhorada, nossos cuidados com a alimentação e por aí vai. O Instagram sempre foi uma bolha.
Mas, nos últimos meses, junto com as imagens das vidas maravilhosas e dos problemas prosaicos ("de que cor devo pintar minha parede?" "Como seguir a moda de forma consciente?"), estão os relatos de fome, desespero e os pedidos de socorro. Não sei se vocês já repararam. Mas, nos comentários de fotos de influenciadores e famosos, há, desde o início da pandemia, pedidos desesperados de mães que precisam alimentar a família e não têm dinheiro, de mulheres que precisam de fraldas para seus filhos, de pessoas que precisam urgentemente de remédios.
Sim, a pobreza chegou até a vida perfeita do Instagram e a rede virou mais um retrato da desigualdade do país, já que enquanto alguns postam fotos de suas primeiras viagens a Paris pós-pandemia, outros (principalmente mulheres) estão pedindo dinheiro para pagar a luz ou comprar comida para os filhos. Em seus perfis, algumas dessas mulheres postam, junto com seu número de PIX, fotos de suas geladeiras vazias.
Triste? Muito. E fruto de uma realidade desesperadora
No momento, segundo dados da Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional (Rede PensaN), mais da metade da população brasileira vive com algum grau de insegurança alimentar. Isso significa, basicamente, que 116 milhões de pessoas não sabem se vão ter comida nos próximos dias. Enquanto isso, 19 milhões estão na pobreza extrema: passando fome.
Entre os atingidos pela tragédia, estão principalmente mulheres. Segundo dados do IBGE, na faixa etária entre 25 e 49 anos, a presença de crianças com até 3 anos de idade vivendo no domicílio se mostra como fator relevante. O nível de ocupação entre as mulheres que têm filhos dessa idade é de 54,6%,
A nova realidade deixa alguns famosos e influenciadores confusos. A atriz Maitê Proença, por exemplo, foi duramente criticada nos últimos dias por ter compartilhado no Instagram uma mensagem de um seguidor pedindo ajuda para pagar o aluguel. A atriz compartilhou a mensagem e escreveu: "Aí, gente, está devendo aluguel de três meses e se não pagar vai ser despejada. Se alguém quiser ajudar, boa sorte!". Muitos acharam que Maitê devia ter ajudado a seguidora. Outros viram seu tom como deboche.
O que fazer?
Atitudes desse tipo, vindas de famosos, foram umas das razões que impulsionaram a criadora de conteúdo Polly Oliveira a criar um projeto "Nós por nós" para ajudar essas mulheres em situação de vulnerabilidade que usam as redes para pedir socorro. "Criei uma ONG esse ano justamente para aguentar essa demanda que aumentou muito com a pandemia. Como influenciadora, percebi isso muito forte e muito latente. Em todos os posts que eu fazia sempre tinha uma mulher clamando, pedindo socorro. Como espectadora também via esse movimento acontecendo em páginas grandes", diz. Em seu projeto, ela arrecada e distribui doações financeiras para mulheres com necessidade.
"O que mais me doeu e me fez decidir usar a minha influência para fazer alguma coisa foi ver muitos famosos respondendo a essas pessoas de forma soberba, como se estivesse se eximindo a ajudá-los. Já vi famosos mandando vender celular, mandando vender pipoca, como se nós enquanto sociedade não tivéssemos responsabilidade", diz Polly. No momento, a ONG de Polly ajuda mensalmente mais de 50 mulheres. Outras 2800 já receberam algum tipo de doação.
"Decidi criar uma rede de ajuda junto com as minhas seguidoras e ser uma porta-voz dessas mulheres, já que elas são massacradas e humilhadas quando vão pedir ajuda na internet", conta Polly. Com a experiência de quem já levantou 200 mil reais para ajudar essas mulheres. "Ao contrário do que muitas pessoas pensam, essas mulheres não querem viver de esmola, elas querem dignidade, um trabalho." Para Polly, a responsabilidade em ajudar essas pessoas é nossa, como sociedade.
Quem der de cara com uma mensagem dessas de desespero e não souber o que fazer, pode encaminhar a mensagem para @pollyoliveirareal no Instagram ou mandar email ou ajuda financeira para essas mulheres por PIX para opoderdeserreal@gmail.com. "Qualquer quantia faz diferença."
O que não dá é para fingir que não está acontecendo nada.
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