Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.
Mulheres acusam Manson de torturá-las em quartinho. Indústria foi cúmplice?
Por anos, e quando já era uma celebridade, o cantor Marilyn Manson (nome artístico de Brian Warner) manteve em seu apartamento em Los Angeles um "quarto do castigo", um local com paredes de vidro e à prova de som onde trancava mulheres e as torturava psicologicamente, segundo relatos de diversas mulheres à revista americana "Rolling Stone". Elas contam que o local parecia um "frigorífico" e ali eram trancadas se fizessem algo que chateasse o cantor.
Em uma apuração de nove meses, a revista ouviu mais de 55 mulheres e testemunhas. Há cinco processos contra ele na Justiça. Se for comprovado, estamos diante de um criminoso perigoso, um abusador serial de mulheres sádico, que tinha prazer não só em abusar e torturar, mas também em contar para as pessoas o que fazia.
Segundo pessoas próximas ao cantor ouvidas pela revista americana, o tal quartinho de Manson era conhecido por todos e uma piada entre amigos. Em 2012, Manson chegou a falar a uma outra revista que "prendia mulheres que não se comportavam direito em um quarto".
Ninguém levou a sério. Tudo parecia mais uma esquisitice do artista, que fez sucesso justamente se apresentando como um sujeito cheio de esquisitices. Muitos de seus amigos e pessoas que trabalhavam com ele teriam visto o tal quarto e ninguém fez nada.
A cumplicidade de todos é uma das coisas que mais chocam nessa história cheia de detalhes bizarros. A indústria da música fingiu que não viu, os fãs idolatravam suas letras soturnas (ele tem uma música instrumental chamada "Baboon Rape Party", algo como "festa do estupro do babuíno") e Manson não escondeu suas ideias nem dos jornalistas.
Ameaça de morte
Em uma entrevista à revista "Spin" em 2009, ele disse que todos os dias tinha fantasias de "esmagar o crânio de uma ex com um martelo". Essa ex-namorada, no caso, é a atriz Evan Rachel Wood, a primeira mulher a denunciá-lo em público esse ano. Entre outras coisas, ela fala que foi ameaçada de morte por ele.
Por anos, as frases sobre estupro e sobre desejo de matar mulheres foram vistas como excentricidade. E Manson, sua gravadora e empresários continuaram lucrando. Ou seja, parte da indústria musical teria sido cúmplice.
No momento, 12 mulheres acusam Manson. Cinco delas já movem processos contra ele. Em depoimentos à revista, ex-namoradas do cantor narraram torturas físicas e psicológicas durante os relacionamentos com ele e disseram que também que foram vítimas de estupro.
Uma das que o acusam, a atriz Esmé Bianco, afirma que, nos dois anos em que manteve um relacionamento com o cantor, foi estuprada, sofreu choques e privação de sono e de comida, além de ameaças de morte.
O caso chocante de Manson nos deixa vários alertas. Um deles é que artista também é gente e suas falas devem ser levadas a sério. E, claro, o caso pode abrir a caixa de pandora dos abusos que acontecem no mundo do rock, um ambiente extremamente machista, onde por anos quebrar cadeiras e ter groupies era visto como prova de "ser rock'n'roll" de verdade.
A indústria da música, que movimenta milhões, teria passado pano para os abusos, provavelmente por causa do lucro. Rumores e acusações contra Manson aconteceram em toda sua carreira, mas parece que foram deixados para lá.
O caso está na Justiça. Se não fosse a coragem das mulheres que o denunciaram, é provável que Marilyn Manson continuasse abusando de outras mulheres — e fazendo sucesso e lucrando.
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