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Nina Lemos

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Alto número de feminicídios no Réveillon mostra: brasileiras correm perigo

Juliana de Freitas Alves foi assassinada pelo marido, o engenheiro Reges Amauri Krucinski, na noite de Ano-Novo.. - Arquivo Pessoal
Juliana de Freitas Alves foi assassinada pelo marido, o engenheiro Reges Amauri Krucinski, na noite de Ano-Novo.. Imagem: Arquivo Pessoal

Colunista de Universa

06/01/2022 04h00

A noite de Ano-Novo é um momento de festa, celebração, retrospectiva e, infelizmente, de violência contra a mulher. Sim, é terrível, mas o álcool e o clima festivo aumentam ainda mais os riscos a que estamos expostas todos os dias.

Nesse ponto, 2022 começou de forma terrível. O noticiário policial está cheio de casos de mulheres esfaqueadas e baleadas por parceiros e ex-parceiros. Pelo menos sete foram vítimas de feminicídio só na noite da virada do ano. A média brasileira nos primeiros seis meses de 2021 foi de quatro feminicídios por dia, um número altíssimo.

Na noite da virada do ano, foi muito pior. Sons de tiros que vitimaram mulheres literalmente se confundiram com os fogos de artifício e mulheres foram mortas no meio de festas.

Foi o que aconteceu em Imbé, no litoral do Rio Grande do Sul, onde uma mulher de 31 anos foi morta durante os preparativos da festa de Ano-Novo com a família. Ela foi conversar com o namorado em um quarto. Na sala, os familiares ouviram disparos, mas acharam que eram fogos de artifício. Eram tiros.

Na badalada Porto Seguro, Bahia, um dos destinos mais procurados no Réveillon, a jornalista Juliana de Freitas Alves, de 41 anos, foi assassinada com tiros na cabeça pelo marido, o engenheiro Reges Amauri Krucinski. Segundo os investigadores, o crime teria acontecido durante uma discussão entre os dois.

Em outro destino praiano popular no Réveillon, Araruama, na região dos lagos do Rio de Janeiro, uma mulher de 27 anos foi morta a facadas pelo marido.

Sentimento de posse

Em um país machista como o Brasil, o sentimento de posse motiva muitos crimes. Segundo uma pesquisa realizada em 2018, 50% dos feminicídios são praticados por homens que não aceitam o fim do relacionamento.

Foi o caso de uma mulher assassinada em Campina Grande, Paraíba. Segundo a polícia local, ela teria se separado há seis meses do suspeito, que não aceitava o fim. Em Manhuaçu, Minas Gerais, na madrugada do ano novo, Lucilene Fernandes Moreira, de 37 anos, também foi morta por um ex que não aceitava o fim. Ela já o havia denunciado por violência doméstica.

O feminicídio vitimiza mulheres de todas as idades. Em Ribeirão Preto, uma mulher de 62 anos foi morta a tiros pelo namorado.

Não são só parceiras de homens violentos que correm perigo. Amigas e familiares de vítimas de relacionamento abusivo também são assassinadas.

Em Guaianases, Grande São Paulo, uma moça de 20 anos foi morta pelo ex-cunhado, com quem a irmã tinha um relacionamento abusivo, no meio da celebração de fim de ano da família.

Esses são os casos com vítimas fatais. Existem muitos outros. E homens também foram mortos em brigas por ciúme. Sim, a masculinidade tóxica que mata não poupa nem os próprios homens.

Esse foi um início difícil de Ano-Novo em um país recordista de crimes contra a mulher. Mas que sirva de alerta: mulheres brasileiras estão em perigo. A violência contra mulher é uma outra epidemia. E sem data para acabar.